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quinta-feira, 17 de março de 2011

ESPECIAL - ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO 3/4

Combater com um programa operário e revolucionário a ofensiva dos EUA/OTAN camuflada de “rebelião” militar-monarquista

Artigo do ESPECIAL - ÁFRICA DO NORTE E ORIENTE MÉDIO
dO Bolchevique #3
Missão "humanitária" dos EUA e OTAN na Líbia, o país que possui as maiores reservas de petróleo da África e a 9a maior do mundo

Estranhamente, a chamada “revolução líbia” já nasceu armada. EUA, UE, Japão e cia. confiscaram os investimentos econômicos internacionais do Estado líbio. A Liga Árabe e a ONU suspenderam o país de seus fóruns. Foi acionado o Tribunal Penal Internacional contra Gadafi e seu clã.

Meios de comunicação do mundo todo, da CNN à Al Jazeera, divulgaram cataratas de informações falsas para sensibilizar preventivamente a opinião pública mundial em favor de uma nova ocupação militar imperialista “humanitária” a la Iugoslávia, Afeganistão e Iraque. Primeiro disseram que Gadafi haveria fugido do país e se refugiado na Venezuela. Desmentida esta informação, foi denunciado que Gadafi havia bombardeado a população de Tripoli, capital do país, matando cerca de 250 pessoas. Sobre isto, vale a pena ver a reportagem de Maurizio Matteuzzi, correspondente do Il Manifesto, um jornal de esquerda independente italiano, que foi a Tripoli constatar a veracidade das denúncias da grande mídia.

Obama anuncia o abandono do "multilateralismo". Não esperou pela ONU para agir. Já movimentou a 5ª Frota e a força aérea mais poderosa da história para articular a invasão militar “humanitária”, convidado pelo “Conselho Nacional de Transição” composto por ex-ministros, empresários, generais, juízes e chefes tribais monarquistas e islâmicos libios. A reação da “comunidade internacional” também é bem diferente em sua “solidariedade” com os protestos oposicionistas. Sai em socorro da oposição libanesa e trata de sufocar os protestos no Bahrein. A mando de Washington, o aparato repressivo da Arábia Saudita foi enviado para reprimir os protestos do Bahrein. “Curiosamente, os manifestantes em Bengasi teriam abolido a bandeira verde da Líbia do topo do principal Tribunal de Justiça da cidade, substituindo-a pela bandeira da antiga monarquia - deposta em setembro de 1969 pelo golpe que levou Gadafi ao poder. A maioria dos manifestantes não tem sequer memória do rei Idris, primeiro e único monarca do país - já que ele foi destronado há mais de 40 anos, e mais da metade da população do país tem menos de 25.” (BBC Brasil, 21/02/2011). Longe de ser uma inacreditável nostalgia de um tempo não vivido por parte da juventude líbia, o uso da simbologia monarquista pela direção made in CIA do movimento anti-gadafista, representa a volta de um regime líbio criado e dominado pelas potências imperialistas no curto período entre o fim da segunda guerra e a tomada do poder por Gadafi.

Os conselheiros militares dos EUA e da OTAN já estavam articulados com a oposição burguesa e com parte do staff de Gadafi à espera de uma oportunidade para desatar um golpe de Estado. A operação foi planificada então para coincidir com as revoltas árabes nos países vizinhos para induzir a opinião pública a acreditar que os protestos haviam se espalhado espontaneamente da Tunísia e do Egito até chegar à Líbia.

O que acontece hoje na Líbia é uma combinação das táticas golpistas imperialistas que vimos recentemente na Bolívia, Equador e Irã, se encaminhando para uma invasão militar “humanitária” a la Balcãs.

Em 2002, uma frente insurgente “revolucionária” orquestrada diretamente pela CIA reuniu setotes do Exercito venezuelano e empresários para realizar um golpe militar contra Chavez.

Em 2007, na Bolívia, uma conspiração burguesa dos departamentos da parte oriental do país deflagraram um movimento separatista armado para negociar diretamente com o imperialismo a riqueza energética desta parte do país. Em fevereiro de 2011, quatro anos depois da ofensiva armada pró-imperialista, foi confirmada a suspeita de que o movimento golpista tinha sido de fato articulado pela CIA através do boliviano croata Eduardo Rozsa Flores, patrocinado pelo milionário empresário Branko Marinkovic, ex-presidente do opositor comitê Pró Santa Cruz. Marinkovic é ligado à falange fascista croata conhecida como Ustasha, enricou com o separatismo nos Balcãs na década de 1990. A Iugoslávia era um Estado Operário burocratizado que foi despedaçado por uma guerra fratricida impulsionada pelos EUA, Alemanha e França.

Em 2009, a CIA realizou um golpe militar bem sucedido em Honduras, substituindo Manuel Zelaya presidente filo-bolivariano e pondo em seu lugar um governo mais sintonizado com os interesses de Washington.

Em 2010, no Equador, uma greve policial quase descamba em um golpe militar contra o presidente bolivariano Rafael Corrêa.

Na Venezuela, assim com no Irã, de tempos em tempos, toma fôlego uma onda de “mobilizações de massa” encabeçada pelas respectivas oposições burguesas pró-EUA.

O imperialismo aprende e desenvolve o know how da contrarrevolução. A autoproclamada “vanguarda revolucionária do proletariado”, composta por partidos que também se dizem marxistas e trotskistas, além de não aprender nada com a história, acaba apoiando as contrarrevoluções imperialistas.

A RECOLONIZAÇÃO DA LÍBIA E A DESASTROSA EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO NOS EUA

Após a alta do petróleo de 2008 e em meio a crise econômica mundial, os EUA trataram de elaborar saídas para a escassez crescente do minério a fim de poupar suas reservas. “O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush pediu hoje ao Congresso para retirar os impedimentos para aumentar a produção nacional de petróleo e acusou os democratas de parte da culpa da alta do preço do combustível por seu ‘obstrucionismo’. Bush urgiu os congressistas a suspenderem a proibição de construir instalações petrolíferas na plataforma continental americana em alto mar, vigente dos EUA desde 1982 para evitar o impacto ambiental e a possibilidade de vazamentos. O candidato republicano à Casa Branca, John McCain, apoia a proposta de Bush, mas seu adversário, Barack Obama, e as principais lideranças democratas a rejeitam.” (UOL economia, Efe, 21/06/2008).

Uma vez no governo, Obama deu continuidade ao plano de Bush e o resultado foi o maior vazamento petrolífero da história, responsável por séculos de danos ambientais sobre os oceanos e o conjunto do planeta, ocasionado pela transnacional British Petroleum, uma das maiores petroleiras do mundo e membro do cartel das “Quatro Irmãs”, juntamente com a ESSO, Texaco e a Shell. Depois do mega desastre, a administração Obama voltou atrás, tratou de secundarizar as metas de aumento da produção nacional e recorreu à tradicional pilhagem colonial. E é aí que entram a ofensiva recolonizadora sobre a África e o Oriente Médio e, em particular, sobre a Líbia.

Segundo dados da Energy Information Administration (2009), a Líbia possui reservas de 46,5 bilhões de barris de petróleo (10 vezes mais que o Egito) e os EUA, 20,6 bilhões, ou seja, a Libia possui mais que o dobro das reservas de petróleo dos EUA. O país africano tem a maior reserva e está entre o três maiores produtores de petróleo de seu continente, possui a 9ª maior reserva do planeta e é o 12º maior exportador mundial do cobiçado produto. Antes da chamada crise do petróleo nos anos 70, a Líbia foi um dos maiores produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), com mais de três milhões de barris diários (bpd). Por um breve período, produziu mais que a Arábia Saudita, a âncora da Opep. Depois da estatização da indústria petrolífera, promovida por Gadafi nos anos 1970, a produção caiu muito, afetada por sanções internacionais e cotas (sabotagem) da Opep. A produção diária total do país antes da “guerra civil” era de 1,6 milhões bpd.

Washington aproveitou o clima de revoltas no norte da África e Oriente Médio para recuperar o terreno perdido, primeiro para o Estado burguês líbio e, após a guinada privatista e desnacionalizante de Gadafi na última década, para a União Europeia no controle do petróleo do país. Diante da determinação estratégica dos EUA em recolonizar o país, as potências europeias tratam de apoiar a ofensiva, acreditando que ao livrar-se do regime de Gadafi, que do ponto de vista imperialista ainda controla em excesso a economia do país, sobrará mais “ouro negro” para todos os invasores. As revoltas populares dos países vizinhos têm possibilitado ao imperialismo diminuir as tensões políticas e promover governos gerentes dos interesses multinacionais mais baratos frente aos apetites renovados do capital imperialista saído da crise de 2007-2008. Por isto, a ofensiva golpista na Líbia se justifica ainda mais pelo anacronismo que representa ainda o atual regime de Trípoli, apesar de todo seu giro “neoliberal” na ultima década.

A OCUPAÇÃO MILITAR IMPERIALISTA DA LIBIA JÁ COMEÇOU

Depois de isolar Gadafi, estrangular economicamente o regime, a OTAN prepara o bombardeamento, agora sim, de Trípoli e a entrada aberta das tropas oficiais do imperialismo sem as camuflagens “populares” na guerra.

De fato, a invasão já começou, através do ingresso dos conselheiros militares para orientar a frente monarquista. Um elemento que vem sendo ocultado pela mídia e principalmente pelo movimento golpista. “Centenas de conselheiros militares dos EUA, Inglaterra e França chegaram a Cirenaica, a leste da província separatista da Líbia. Esta é a primeira vez que a América e a Europa intervieram militarmente em qualquer uma das revoltas populares que estão acontecendo pelo Oriente Médio desde Revolução Jasmim da Tunísia no início de janeiro. Os conselheiros, incluindo oficiais de inteligência, desembarcaram de navios e embarcações com mísseis nas cidades costeiras de Bengasi e Tobruk quinta-feira 24 de fevereiro, para organizar as unidades paramilitares, ensiná-los a usar as armas capturadas das instalações do exército líbio, treiná-los para combater as unidades Muammar Kadafi combater vindo a retomar Cirenaica e preparar infra-estrutura para a chegada adicional de tropas estrangeiras. Unidades egípcias estão entre as tropas cogitadas para se somarem mais tarde.” (DEBKAfile, Conselheiros Militares dos EUA na Cirenaica, 25/02/2011). As tropas egípcias serão enviadas pelo “novo” governo da Junta Militar.

UMA GUERRA PARA AUMENTAR A EXPLORAÇÃO SOBRE A CLASSE OPERÁRIA E O PETRÓLEO LIBIO

Diferentemente do Egito e Tunísia, “antes da crise começar, a economia do país passava por um ‘boom’. O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que a Líbia tenha crescido 10,6% ano passado, e que venha a crescer cerca de 6,2% em 2011.” (BBC Brasil, 21/02/2011). A crise social, unindo inflação alimentar com desemprego, foi o combustível das revoltas tunisianas e egípcias. A juventude desempregada foi um dos fatores determinantes na destituição de Ben Ali. O ingresso dos trabalhadores egípcios e em particular dos têxteis foi decisivo para a renúncia de Mubarak.

Embora a Líbia não tenha passado imune à inflação alimentar, assim como a Venezuela, o país importa grande parte do que consome, os efeitos da inflação foram amortecidos graças a um relativo embora decrescente controle do Estado sobre o petróleo. Ao contrário dos vizinhos, detentores de uma enorme massa de jovens desempregados, o país, cuja classe operária nativa é muito pequena, é uma nação que atrai os jovens dos outros com sua oferta de emprego a salários relativamente maiores do que os pagos no restante da África. Isto é notável pelo intenso processo migratório da classe operária fugindo da “guerra civil” fustigada pelo imperialismo. Dos seis milhões de habitantes, quase dois milhões são trabalhadores estrangeiros. 1,5 milhões são egípcios, 50 mil bengaleses, 15 mil indianos e um grande número de paquistaneses. 30 mil turcos constituem a maior parte dos trabalhadores da construção civil. 200 são brasileiros funcionários de empresas de construção civil como a Andrade Gutierrez e a Odebrecht como operários ou engenheiros.

Ao total, a Odebrecht contratou para trabalhar no país 3.200 funcionários. Além dos brasileiros, a empresa explora tailandeses, vietnamitas, filipinos e egípcios. A maioria esmagadora da classe operária que trabalha na Líbia está momentaneamente se repatriando em seu país de origem.

GADAFI, DO PAN-ARABISMO AO NEOLIBERALISMO

A fraudulenta independência da Líbia foi a primeira “independência” de um país a ser realizada pela própria ONU que também instituiu uma monarquia títere dos EUA e de Israel no país. A era Gadafi na Líbia começou em 1969, quando um grupo de oficiais liderados por Muammar al Gadafi, derrubaram a monarquia num golpe de Estado sem derramamento de sangue, estabelecendo uma República inspirada no nacionalismo nasserista. Isolado pelo imperialismo e pelo sionismo que preferiam o servil rei Idris e sabotado pelos fantoches da OPEP, a partir de 1970, Gadafi expulsou os efetivos militares estrangeiros e decretou a nacionalização das empresas, dos bancos e dos recursos petrolíferos do país. O governo passou a controlar os preços das mercadorias, o comércio, o crédito e o câmbio, restringindo as importações. As exportações de petróleo da Líbia passaram a ser totalmente controladas pelo governo, fornecendo cerca de 95% de sua receita de exportação. A nacionalização da imensa riqueza do petróleo deu meios ao governo líbio para melhorar as condições de vida da população. De acordo com estimativas de 2004 do governo dos EUA, 82% da população adulta total é alfabetizada (92% dos homens e 72% das mulheres). A educação primária é gratuita e obrigatória. O número de médicos e dentistas aumentou sete vezes entre 1970 e 1985, resultando em um médico por cada 673 cidadãos (na rede pública da cidade de São Paulo há regiões em que a disponibilidade é de 1 médico para 20 mil habitantes). No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU a Líbia ocupa o 53º lugar no ranking do IDH (o Brasil está em 73o lugar e o Egito 101o).

Depois da Guerra do Yom Kippur, em 1973, a Líbia pressionou seus parceiros árabes a não exportar petróleo para os Estados que apoiaram Israel. Opôs-se à iniciativa do lambe-botas egípcio Sadat, de restabelecer a paz com Israel, e participou ativamente, junto com à Síria, da chamada “frente de resistência” em 1978. Seu apoio à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se intensificou, e a cooperação com os palestinos se estendeu a outros grupos guerrilheiros de países não árabes, que receberam ajuda econômica líbia.

A rejeição a Israel, as manifestações antiamericanas e a aproximação com a União Soviética, por parte da Líbia, marcaram a conduta do governo nacionalista na década de 1980. As relações da Líbia com os Estados Unidos se deterioraram quando os ianques impuseram um embargo às importações de petróleo líbio e sanções econômicas ao país. O governo de Gadafi foi implicado no atentado terrorista de uma discoteca em Berlim Ocidental frequentada por militares americanos. A ONU impôs sanções à Líbia em 1992-93 depois do governo líbio ter sido implicado no atentado do voo Pan Am 103 em Lockerbie, Escócia, em 1988 e no bombardeio de um voo francês sobre o Níger em 1989. O presidente dos EUA, Ronald Reagan ordenou, em abril de 1986, um bombardeio da aviação americana a vários alvos militares em Trípoli e Bengasi, causando a morte de 130 pessoas. Gadafi saiu ileso, mas perdeu uma filha quando sua casa foi atingida.

A contrarrevolução na URSS fez com que os anos 1990 fossem anos de severo isolamento político e econômico e declínio para a Líbia. As sanções e embargos comerciais provocaram o aumento dos custos de importação e de inflação na economia doméstica da Líbia, resultando em um padrão de deterioração da vida da maioria dos seus cidadãos. Grupos de oposição militante islâmicos executaram vários ataques contra o governo, incluindo uma série de tentativas para assassinar Gadafi. Uma tentativa de golpe militar teve lugar em 1993, mas os líderes do golpe e os grupos de oposição islâmicos foram reprimidos. Em 1995-97 Gadafi realizou uma ofensiva militar na Cirenaica, que era o centro de grande parte da oposição.

Durante o período de 1999-2003, Gadafi realiza sua guinada à direita cumpridos todos os termos das resoluções da ONU (Conselho de Segurança) necessárias ao levantamento das sanções contra a Líbia. Após o 11 de setembro, o ditador ofereceu sua colaboração aos EUA para combater o terrorismo internacional declarando em seu site “O fenômeno do terrorismo não é um motivo de preocupação para os EUA sozinhos. É uma preocupação para o mundo inteiro”. O estreitamento cada vez maior das relações entre o caudilho e o imperialismo fez com que Gadafi aplicasse planos neoliberais, privatistas, entreguistas que corroem e já destruíram várias conquistas sociais produzidas pela nacionalização dos meios de produção das décadas anteriores.

“ESTAVAM COM GADAFI E GRITAVAM CONSIGNAS DEFENDENDO A VELHA REVOLUÇÃO, POR ISTO OS MATAMOS”

A “rebelião” atual começou na cidade de Al-Baida, no noroeste e daí se estendeu a outras cidades. Nesta cidade se fundou no século XIX o movimento islâmico conservador criado por Mohamed al-Sanusi. Este movimento se expandiu pela região da Cirenaica e teve ao longo das ultimas décadas repetidos enfrentamentos com Gadafi, a quem consideram demasiado liberal em sua interpretação do islã. A CIA se aproximou do movimento islâmico Sanusi, que por influência da ONU ao final da II Guerra instituiu um breve reinado no país, para montar suas bases “insurgentes”. Os Sinusi controlam a cidade de Begasi, centro da rica região leste do país. Coordenados pelo ministro da justiça desertor, juízes e advogados ocuparam o escritório da Procuradoria General na cidade.

Nas duas últimas décadas, isolado em meio à ofensiva imperialista pós-URSS incrementada com a guerra ao terror de Bush, o caudilho militar líbio abandona sua retórica anti-imperialista dos anos 70 e 80, quando na esteira do pan-arabismo nasserista e após o ascenso popular mundial de 1968 destronou a monarquia e nacionalizou grande parte da economia líbia, e inicia a desnacionalização da economia do país. A União Europeia saiu na frente apropriando-se de 78% das exportações líbias, deixando os EUA “na lanterninha” com apenas 7%. Ao baixar a guarda para as investidas comerciais do imperialismo, Gadafi estimulou os apetites de uma parte de seu staff.

Os últimos discursos do caudilho, despolitizados, irresponsáveis e agressivos, reforçaram a munição da mídia de propaganda de guerra imperialista  para caricaturar Gadafi como um tirano enlouquecido e favorecer a campanha militar fratricida da frente opositora.

Excepcionalmente a própria imprensa burguesa revela as atrocidades do campo imperialista: “Em Shahat, também no leste, os rebeldes prenderam dezenas de mercenários  de 15 a 18 anos recrutados no vizinho Chad. Outros muitos tem sido executados. ‘Estavam com Gadafi e gritavam consignas defendendo a velha revolução, por isto os matamos’, conta friamente um dos guardiães” (El país, 25/02/2011). Estranhamente os chamados “mercenários” morrem reivindicando a revolução enquanto os “libertadores” e “democratas” os executam impiedosamente como carniceiros. A campanha militar dos monarquistas da CIA, ovacionada como “revolução” por não poucos revisionistas do trotskismo, choca por sua crueldade: “Numa cena violenta em Al Ugayla, a leste de Ras Lanuf, um rebelde gritava a poucos centímetros do rosto de um jovem africano detido sob a suspeita de ser mercenário: ‘Você estava portando armas, sim ou não? Você estava com as brigadas de Gaddafi, sim ou não?’. O jovem, em silêncio, foi empurrado até cair de joelhos no chão de terra. Um homem colocou uma pistola perto do rosto do rapaz, mas um jornalista protestou dizendo ao homem que os rebeldes não são juízes.” (Reuters, 3/032011).

“TRAGAM O BUSH!”

Diferente das revoltas populares que provocaram até algumas deserções verdadeiras no Egito e na Tunísia, os carniceiros do campo imperialista na Líbia, iniciam sua “rebelião” já muito bem armados. “Os rebeldes estão armados com lançadores de foguetes, canhões antiaéreos e tanques” (Reuters, 3/032011). São financiados pela associação da burguesia local e chefes tribais da Cirenaica onde operam as principais transnacionais petrolíferas a eles associados. Para deixar a batalha por Trípoli ainda mais favorável aos “rebeldes” da CIA, os próprios, para dar legitimidade à nova aventura militar colonialista dos EUA, “pediram na quarta-feira que a ONU autorize bombardeios aéreos estrangeiros contra supostos mercenários estrangeiros a soldo do regime.” (idem). Mas não só isto, “na quinta-feira, os rebeldes propuseram também a adoção de uma zona de exclusão aérea, ecoando o apelo feito pelo vice-embaixador líbio na ONU, que rompeu com Gadafi.” (idem). O Secretário de Defesa dos EUA se antecipou e esclareceu o que seria a tal zona de exclusão aérea tão propalada pela imprensa nos últimos dias e que causou um certo descompasso entre os EUA e a União Européia acerca dos ritmos e formas da intervenção militar. Robert Gates esclareceu: “Vamos chamar as coisas por seu devido nome. Uma zona de exclusão aérea começa por um ataque à Líbia para destruir suas defesas aéreas” (Reuters, 03/03/2011). Sendo levado adiante este plano militar, a invasão pode começar com a destruição da aviação libia e o controle de seu espaço aéreo.

Enquanto os jovens que lutam ao lado do regime de Trípoli reivindicam uma revolução a qual identificam falsamente com a luta antiimperialista, os verdadeiros mercenários da CIA não ocultam seus ídolos. Para fechar com chave de ouro sem deixar dúvidas sobre a inclinação ideológica e politica dos “rebeldes” eles reivindicaram: “Tragam o Bush! Façam uma zona de exclusão aérea, bombardeiem os aviões”, gritava o soldado rebelado Nasr Ali, referindo-se à zona de exclusão aérea imposta no Iraque em 1991, quando o presidente dos EUA era George W. Bush.” (Reuters, 3/032011).

Desesperado, o caudilho de Trípoli ameaça tomar uma medida excepcional, transgredindo uma regra básica da política capitalista, quebrar o monopólio da violência do Estado burguês e armar a população contra o campo imperialista.

“Gadafi decidiu armar a seus fiéis para travar sua última batalha na capital. O arsenal da cidade está agora à disposição daqueles que querem fazer a guerra por sua conta, contra seus próprios vizinhos, levantados em seus bairros contra Gadafi. Sua ideia de dar armas aos civis ameaça desatar uma matança na capital. (O drama líbio. El país, 26/02/2011). A medida do ditador líbio deixa mais desesperados os porta-vozes da grande burguesia. As massas líbias organizadas devem se armar com os arsenais que o governo finalmente pôs a sua disposição. Devem colocar o fuzil sobre o ombro de Gadafi e disparar contra o imperialismo e seus agentes que buscam duplicar a exploração das riquezas dos líbios a serviço dos EUA e UE, os inimigos “número 1” da população trabalhadora de todo o mundo. Ao fazer isto, não depositarão nenhuma confiança, não emprestarão nenhum apoio político ao clã Gadafi, que pavimentou o caminho da reação, a quem os trabalhadores não podem ver senão com ódio de classe e contra quem se preparam para acertar as contas.

É provável que, no meio da luta, Gadafi capitule, como Milosevic, Saddan Hussein e tantos outros políticos burgueses que tiveram que realizar um enfrentamento militar com seus amos imperialistas.

Os verdadeiros revolucionários também não podem dissimular seu lado nesta guerra, odeiam Gadafi, mas a vitória do imperialismo seja da forma como for, sobre o ditador de Trípoli significará maior exploração dos trabalhadores nativos e estrangeiros em solo libio e maior pilhagem do petróleo do país. Por sua vez, a derrota do campo imperialista, daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país, pavimentando um genuíno ascenso popular para a derrota da guinada política pró-imperialista de Gadafi e ao final de sua própria ditadura. Um programa operário e revolucionário neste conflito não pode ser outro que estabelecer uma frente única militar com Gadafi, sem depositar nenhuma confiança na autodefesa do regime decrépito. Pela defesa incondicional da Líbia contra o imperialismo e seus agentes golpistas em solo Líbio. Pelo armamento de todo o povo contra a recolonização “democrática” imperialista. Pelo controle operário de Trípoli, dos campos petrolíferos, de todas as cidades do país. Pela separação do Estado da Igreja. Pela igualdade dos trabalhadores imigrantes e das mulheres trabalhadoras. Salário igual para trabalho igual. Os milhões de trabalhadores terceirizados contratados pelas multinacionais que atuam na Líbia devem lutar por sua efetivação no Estado líbio, pela nacionalização sem indenização e sob o controle operário das transnacionais petrolíferas, construtoras, etc, incluindo a “brasileiras” Odebrecht, Andrade Gutierrez. Pela expropriação do imperialismo e do conjunto da burguesia libia, incluindo o clã de Gadafi rumo a um governo operário e camponês e a uma verdadeira conflagração revolucionária em toda a região pela expulsão do imperialismo e construção da Federação das Repúblicas Soviéticas da África e Oriente Médio.