TRADUTOR

quinta-feira, 21 de julho de 2011

RESPOSTA DA LC À RÁDIO PIÃO E A SEUS LEITORES

Dilemas da construção do partido no proletariado fabril

Para começar, gostaríamos de agradecer aos companheiros da Rádio Pião pelo esforço que realizaram por sistematizar vossas críticas ao documento “Nasce a Liga Comunista” (O Bolchevique #1, 10/2010). Agradecemos também a divulgação na íntegra que fizeram de nosso documento, alvo de vossa crítica.

Agora foi nossa vez de dispor de vossa paciência. Compreendemos o atraso de novembro de 2010 a março de 2011 em nos responderem e agora foi a nossa vez de poder contar com a vossa compreensão. Que fique claro, não se trata de nenhum revanchismo de nossa parte, afinal, o retardo na organização entre os trabalhadores só fortalece aos seus inimigos, mas de acúmulo de tarefas políticas de construção nacional e internacional de nossa organização.

Esperamos deixar claro, a partir da avaliação da “Critica a Liga Comunista” e dos Boletins que possuímos da RP, nossos acordos e diferenças com vossa organização.

Temos pleno acordo que é necessário construir um partido operário, que tal partido será instrumento da assimilação da teoria científica marxista pelo proletariado e que sua função é derrotar o poder burguês, destruir o seu Estado e substituí-lo pela ditadura do proletariado. Acreditamos que nunca se consolidou no Brasil uma organização forte, provada na luta política tanto em períodos de regimes militares quanto democráticos, de ascenso quanto de refluxo do movimento operário, guiada por um plano de atividades sistemáticas, orientadas por princípios programáticos e aplicados com perseverança.

Concordamos que a derrota da classe operária e dos assalariados em geral é um fenômeno mundial, que diante do retrocesso em que o movimento operário se encontra, sua resistência espontânea à crise do capitalismo, conduzida por setores da esquerda economicista resultará numa saída nos marcos burgueses. Acreditamos também “que todas as organizações locais que não estão centralizadas por um partido operário a nível nacional, por mais que se esforcem para fazer um trabalho revolucionário, não poderão romper com os métodos artesanais de luta e organização e junte-se a isso o atraso do movimento operário nos terrenos político, ideológico e organizativo.” (Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades, 24/03/2011).

Acreditamos que esta organização deva ser conspirativa, combinando o trabalho ilegal com o legal, e deve basear-se em uma direção de quadros revolucionários profissionais. Mas nosso ideal de estrutura organizacional não tem como meta que sejamos um ajuntamento de organizações locais dirigidas por um centro dirigente. Seguimos a proposição de Lenin em sua “Carta a um camarada”, de 1902, quando propõe a criação de um partido com dois centros dirigentes, um Órgão Central, responsável pela publicidade partidária e formação ideológica, e um Comitê Central, responsável pela condução prática e direta de toda uma rede de militantes, simpatizantes e aspirantes, organizados coletivamente em torno das publicações partidárias (jornais impressos, órgãos virtuais de publicidade partidária, boletins e panfletos) e distribuídos nas organizações locais, grupos fabris, de difusão da imprensa, círculos de propagandistas, etc; os quais devem ser compostas por operários, trabalhadores assalariados, por intelectuais e estudantes.

PROVINCIANISMO OU INTERNACIONALISMO

Consideramos como positivo o diagnóstico sincero que a RP faz de si mesma “o nosso Coletivo na situação em que atualmente se encontra ainda não se constituiu como uma organização local” (Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades, 24/03/2011).

A LC é uma liga de propaganda que almeja construir um partido operário e revolucionário, uma seção do partido mundial da revolução socialista. Não alcançaremos este resultado sozinhos, se quisermos fazer isto de forma sectária, mas também, tampouco chegaremos a ele se renunciarmos aos princípios do marxismo revolucionário para crescer a qualquer custo.

Não entendemos que a construção do partido operário revolucionário deva ser encarada como um produto natural da multiplicação de organizações locais que desembocarão em organizações regionais, em seguida nacionais e por fim internacionais. Partindo do pressuposto que a nossa classe é internacional, nossa organização busca desde o princípio também ser internacional. O proletariado não tem pátria e não devemos declinar destas tarefas pelas limitações idiomáticas, culturais ou fronteiriças que nos separam de nossos irmãos dos outros países. Acreditamos que é preciso realizar um trabalho simultâneo de crescimento local e internacional e que a construção das organizações locais deva ter como eixo ordenador a construção da organização internacional, ainda que as particularidades regionais influenciem na evolução do organismo que buscamos criar. Entendemos que:

“o movimento social-democrata é, pela sua própria essência, internacional. Isso não significa somente que devemos combater o chauvinismo nacional. Significa também, que um movimento iniciado em um país jovem só pode ter êxito se assimilar a experiência dos outros países. Ora, para tanto não é suficiente apenas conhecer essa experiência, ou limitar-se a copiar as últimas resoluções. É preciso saber proceder à análise crítica dessa experiência e controlá-la por si próprio. Somente quando se constata o quanto se desenvolveu e se ramificou o movimento operário contemporâneo, pode-se compreender a reserva de forças teóricas e de experiência política (e revolucionária) necessárias para se realizar essa tarefa.” (Que Fazer?, 1902).

Até a aprovação das teses de abril 1917, propostas por Lenin, pelo Partido Social Democrata Russo pela fração bolchevique (ou seja, fração majoritária em russo); os comunistas se chamavam “social-democratas”.

Queremos nos debruçar sobre uma preocupação que também já percebemos nos camaradas da RP. Trata-se das particularidades regionais e como adequar-se a elas superando abstrações mecânicas que não nos servem para a construção do partido nas condições que nos deparamos na vida real. Diante do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo precisamos construir um partido mundial dos trabalhadores, construção que, portanto, tende a ser de forma desigual e combinada.

Entendemos que as particularidades regionais, produto sumário da desigualdade do desenvolvimento histórico, se combinam para formar a originalidade dos traços fundamentais da evolução mundial da luta de classes que por sua vez determinam a estratégia revolucionária. Na compreensão da LC, o internacionalismo jamais deve ser um obstáculo ao esclarecimento das especificidades históricas de cada nação. Não sendo uma abstração, o internacionalismo deve ser alimentado permanentemente por estas especificidades. O internacionalismo da teoria da revolução permanente apoia-se na concepção do desenvolvimento desigual e combinado destas especificidades.

Nos opomos à tendência da moda, predominante nos meios altermundistas, de superestimar as particularidades regionais ou nacionais para, em nome de um suposto rechaço ao eurocentrismo, rechaçar a concepção materialista e dialética da história. Este ataque ao marxismo faz parte de um conjunto de concepções decorrentes da ofensiva reacionária anticomunista pós-URSS. Mas como superar as abstrações e adaptar-se a cada situação específica da luta de classes sem cair no campo oposto, o de desviar-se da linha revolucionária proletária e internacionalista? Os traços econômicos específicos nacionais, por mais importantes que sejam, constituem em escala crescente os elementos de uma unidade mais alta que se chama economia mundial e que serve, afinal de contas, de base ao internacionalismo dos partidos comunistas. A originalidade social, cultural, política e econômica local é a cristalização das desigualdades combinadas da formação de dada região.

Para exemplificar o que estamos tratando, basta recordar que o bolchevismo se originou das particularidades de uma Rússia atrasada, onde a democracia burguesa germinava de forma completamente atrofiada pela opressão monarquista, e onde ainda mal tinha se escutado falar em sindicatos. Neste terreno, o movimento operário floresceu como movimento político e o partido social democrata criou os sindicatos (de forma similar como na Alemanha). No Brasil, assim como na Inglaterra, o sindicalismo criou o partido. Na Inglaterra, a aristocracia operária, nutrida pelas migalhas que caíam da mesa da pilhagem colonial britânica, só se viu obrigada a criar o partido trabalhista após um século de luta sindical econômica, quando o declínio do colonialismo britânico já não mais garantia os privilégios das camadas superiores do proletariado inglês através da simples luta econômica. No Brasil, após a liquidação política e organizativa das organizações de esquerda (pela capitulação histórica do stalinismo, pelo estrangulamento físico ao qual foi conduzida a política foquista da maioria de suas dissidências e pela falta de implantação operária do trotskismo) durante a ditadura, as greves dos grandes centros industriais paulistas deram origem a um grande partido trabalhista. Durante a década de 80 este partido serviu como ferramenta da luta para a conquista dos sindicatos das mãos do peleguismo, através da criação da CUT. Todavia, a consolidação de uma nova aristocracia operária na direção do PT e da CUT, cooptada para cogerir o Estado capitalista na redemocratização do regime burguês, cristalizou-se como um instrumento contrarrevolucionário que converte-se no principal partido de sustentação da ordem burguesa na era Lula, assegurando estabilidade política e consolidando uma posição de relativa hegemonia regional em relação às outras burguesias semicoloniais do continente.

O prefeito de Guarulhos, Sebastião Almeida, ex-metalúrgico e ex-sindidalista, é um expoente desta geração que saiu dos meios operários para administrar pelas vias estatais a exploração do trabalho assalariado pelo capital. Há quase uma década e meia de gestão petista no município, articula-se com os governos federais petistas, estaduais tucanos, e principalmente com o empresariado das multinacionais e grandes industriais (Pfizer, Usiminas, Bauducco, Levorin, Pepsico, Sew, Continental, Fragon, Cummins, Bardella, Morcego, Dyna, Embacape, Tower-Arujá, Gerdau, Lincoln Electric, Valleo, Aché, Maggion, Karina Plásticos, Europa, Rosset, Yamaha, CIA Lilla, Randon, Tecfil, Infoton Technology, Borlem, ABB,...), empresários dos transportes (Vila Galvão e Campos de Ouro) e o conjunto de grandes comerciantes (Riachuelo, Ponto Frio, Dia) instalados na cidade.

Todavia, um dos ingredientes fundamentais desta frente única pró-patronal, que garante para os capitalistas o usufruto do 2º maior PIB do Estado, 9º PIB do país (nada menos que 1% da economia nacional, cerca de três dezenas de bilhões de reais) através da saqueadora exploração institucionalizada sobre a população trabalhadora, é o Sindicato dos Metalúrgicos controlado pelos pelegos da Força Sindical. E, para fechar com chave de ouro esta frente antioperária, mantendo tudo em família, a mulher do presidente do Sindicato oferece a possibilidade ao patronato de substituir os operários efetivos por terceirizados mais baratos através de sua empresa, a VRS.

Se não tivermos bem clara uma “obsessão” internacionalista, estaremos condenados a degenerar de uma forma ou de outra por nacionalismo, regionalismo ou provincianismo. Desde o princípio este foi o critério da Liga dos Comunistas de Marx e Engels. Neste sentido, o nosso jornal deve aprender e ensinar com a luta de nossos irmãos trabalhadores em qualquer parte do planeta, pois jamais teremos consciência de classe se refletirmos apenas os problemas de nosso local de trabalho, jamais entenderemos quais são os interesses históricos e mundiais da nossa classe se nos voltarmos apenas para os nossos umbigos. Assim, sequer entenderemos porque sobe o custo de vida e a inflação, se acentuam os ritmos de produção, aumenta nossa exploração e as demissões ou como a burguesia disputa a produtividade. Como os companheiros da RP acertadamente assumem no seu último informativo “é um erro nosso não sabermos em detalhes a situação dos companheiros nos outros países” (RP 29, 04/2011). Diga-se de passagem, a construção de um partido internacional, a solidariedade de classes, o enriquecimento político mútuo que isto ocasiona, nos permite avançar muito mais na luta e em nossa organização do que apenas saber do que se passa nos outros países.

Não concordamos com a observação da RP: “Para empreender as tarefas acima citadas os camaradas têm em vista simplesmente a organização dos operários da cidade de São Paulo (e mesmo assim refere-se somente aos operários do setor fabril, ou seja, no setor de produção do capital e acaba por negligenciar a organização no setor da circulação do capital)... Ter somente como prioridade a organização de uma determinada cidade por sua importância econômica, política e social é de fato um argumento muito insuficiente.” (Rádio Pião; “Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades”, 25/03/2011). A partir da nossa defesa da proletarização da militância e do combate a liquidação da regional da LBI na cidade mais importante do país, as quais reivindicamos e pomos em prática nos últimos meses, os camaradas da RP sacaram conclusões equivocadas de que reivindicaríamos uma militância exclusivamente fabril e paulistana. Todavia, além de construirmos na LC a regional de São Paulo como centro de nossa organização e de iniciarmos o trabalho fabril, neste período nós desenvolvemos atividades militantes no Nordeste (Maranhão), no Rio de Janeiro e em Nova Iorque e, em São Paulo, realizamos militância em diversas categorias. Interviemos em vários ramos da produção onde impera a circulação do capital como bancários, funcionários públicos federais e municipais, estudantes universitários, teleoperadores, etc; como se pode comprovar nas páginas de nossa imprensa escrita e virtual. Todavia, a crítica que nos fazem serve a RP. Pelo que identificamos nas páginas dos boletins da RP, e supomos que o boletim dos camaradas reflete o centro de sua agitação, propaganda e organização coletiva, são os companheiros que, embora manifestem a defesa de uma militância mais ampla, limitam-se exclusivamente à militância fabril e municipalizada não em São Paulo, mas em Guarulhos.

É certo que uma jovem organização possui muitas limitações, mas se a LC possui apenas alguns meses, é portanto um bebê, a RP já pode ser considerada uma criança de sete anos. Então a crítica que nos fazem sobre o exclusivismo fabril e municipal se aplica muito mais a própria RP que à LC. A propósito, acreditamos que muito do que está escrito na “Critica a Liga Comunista”, particularmente sobre o tema: concepção de partido, corresponde a idealizações da RP sobre o partido que estão muito distantes da prática política dos camaradas e é disto que trataremos adiante.

ECONOMICISMO OU COMUNISMO

A RP afirma que “tenta se constituir em uma organização comunista local, e como uma organização local ela necessariamente chegará a um ponto em que não poderá superar suas debilidades, simplesmente porque ela não está centralizada por um partido, e, por conseguinte, todo o seu esforço poderá no máximo realizar a proeza de uma Comuna de Paris!!!!” (Rádio Pião; “Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades”, 25/03/2011). A RP reconhece que uma organização local, com dificuldades até para confeccionar um jornal local e carente de um centro dirigente, terá muitas dificuldades em organizar o proletariado. É preciso ser categórico para sacar as conclusões precisas a fim de definir um norte correto de construção partidária: uma organização local que não supere o isolamento político municipal, não se unifique a outras em torno de um centro dirigente, não pode ultrapassar as deformações do limitado horizonte político provinciano e logo, também não pode formular uma política revolucionária para as massas e, ao final, nem sequer poderá se constituir como uma organização comunista local e tende a retroceder antes de chegar à altura de realizar a proeza de uma Comuna de Guarulhos. Portanto, jamais poderá organizar o proletariado em um partido comunista revolucionário para sua emancipação política. Não estamos aqui “jogando uma praga” nos camaradas. Constatar que "com os grandes partidos de esquerda a situação não é diferente" pode até servir de consolo, mas não ajuda na luta pela organização política do proletariado. Lamentavelmente, o reconhecimento das limitações feitas pelos companheiros não possui maiores consequências no sentido de superar estas mesmas limitações. Vejamos: “reconhecemos nossas debilidades, mas há de checar como se encontram de fato as outras “organizações de propaganda” e quais os objetivos que elas pretendem alcançar.” (idem). E por aí vai, ou seja, os camaradas abortam o desenvolvimento da autoavaliação para se conformar diante da miséria organizativa e política das demais organizações que de nada servem ao proletariado.

Como destacamos no “Nasce a Liga Comunista” reconhecemos que é tarefa dos marxistas educar o proletariado inconsciente de sua missão histórica sob os preceitos do marxismo, uma compreensão do mundo que só pode vir de fora das massas. Se não o fizermos, ninguém o fará: “Em nenhum país, sob nenhuma circunstância, o proletariado por si só foi capaz de compreender sua tarefa histórica. (...) Aprendemos que as ideias dominantes entre os trabalhadores, são as ideias das classes dominantes, que os operários não desenvolvem sozinhos a consciência socialista, que esta só pode ser introduzida de fora da classe pelos intelectuais materialistas dialéticos como foram Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Mas, se a vanguarda marxista, oriunda da pequena burguesia, acomodou-se e só faz política entre si, recorrendo à classe operária apenas para lhe pedir apoio em eleições sindicais ou burguesas, como pode o trotskismo penetrar na classe? Esperar que o proletariado, sob o impacto das derrotas históricas e da educação ministrada pelo cretinismo parlamentar, trade-unismo, onguismo,... não retroceda por décadas em sua compreensão política, é idea­lizar um proletariado que não existe nem nunca existiu. As massas repletas de contradições internas só terão sua consciência modificada em favor da revolução se os marxistas o fizerem.” (O Bolchevique #1, outubro de 2010). Nossa tarefa consiste em conduzir os operários a uma compreensão para além do ponto onde podem compreender sozinhos, ir além da consciência sindical, também conhecida como trade-unismo ou economicismo.

A RP reconhece que se vê tensionada por duas críticas opostas, uma de que deve romper com o economicismo e outra de que deve romper com o comunismo e assumir meramente a condição de oposição sindical. A RP defende-se dizendo que ambas as críticas ignoram por completo o trabalho da organização e justifica que seu informativo cumpre o papel de agitador, propagandista e organizador coletivo e propaga que somente a revolução social pode suprimir as contradições do capitalismo e que este objetivo só será alcançado pela criação de um partido revolucionário. Tudo isto está correto e nós nos constituímos como Liga Comunista para romper com a tradição dos socialistas pequeno burgueses que se recusam ao trabalho paciente de disputar a consciência política das massas contra os reformistas e revisionistas. É preciso realizar este trabalho de tal maneira que os proletários militantes reconheçam nossa organização comunista como a que deve dirigir leal e corajosamente as lutas. Para conquistar esta cara confiança do proletariado, os comunistas precisam tomar parte nas lutas espontâneas da classe operária e assumir como sua a missão de defender as condições de vida e de trabalho da classe operária contra a sufocante e crescente escravidão imposta pela bárbarie capitalista. Buscamos aplicar as concepções da III Internacional de Lenin e Trotsky que aponta:

“Os comunistas devem ocupar-se energicamente das questões concretas da vida dos operários, ajudá-los a se desembaraçar dessas questões, chamar sua atenção para os casos de abusos mais importantes, ajudá-los a formular exatamente e de forma prática suas reivindicações aos capitalistas e, ao mesmo tempo, desenvolver entre eles o espírito de solidariedade e a consciência da comunidade dos operários de todos os países como uma classe unida que constitui parte do exército mundial do proletariado.

Apenas participando desse trabalho miúdo e cotidiano absolutamente necessário, jogando todo seu espírito de sacrifício nos combates do proletariado, o “Partido Comunista” pode se transformar em verdadeiro Partido Comunista. Apenas por esse trabalho os comunistas se distinguirão desses partidos socialistas de mera propaganda e alistamento que já tiveram sua época e cuja atividade consiste apenas em reuniões, discursos sobre as reformas e a exploração das possibilidades parlamentares. A participação consciente e devotada de toda a massa dos membros de um partido na escola das lutas e contendas cotidianas entre os explorados e os exploradores, é a premissa indispensável não somente de conquista mas, numa medida mais larga, da realização da ditadura do proletariado. Somente se colocando à frente das massas operárias em suas guerrilhas constantes contra o ataque do capital, o Partido Comunista pode se tornar a vanguarda da classe operária, aprender sistematicamente a dirigir de fato o proletariado e adquirir os meios de preparar conscientemente a derrota da burguesia.

Os comunistas devem estar mobilizados em grande número para participar do movimento dos operários, sobretudo durante as greves e os locautes e reuniões de repercussão massiva.

Os comunistas cometem uma falta muito grave se acatam o programa comunista, mas na batalha revolucionária final assumem uma atitude passiva e negligente, ou mesmo hostil em relação às lutas cotidianas que os operários travam pelas melhorias, ainda que pouco importantes, de suas condições de trabalho. Por miúdas e modestas que sejam as reivindicações pelas quais os operários se batem hoje contra os capitalistas, os comunistas não devem jamais se furtar ao combate. Nessa atividade de agitação, não se deve fazer crer que os comunistas são instigadores cegos de greves estúpidas e outras ações insensatas, mas devemos merecer dos operários militantes a reputação de sermos os melhores companheiros de luta.

A prática do movimento sindical mostrou que os núcleos e frações comunistas são, muito freqüentemente, confusos e só sabem o que fazer diante das questões mais simples. É fácil, ainda que estéril, pregar sempre os princípios gerais do comunismo, para cair na via do sindicalismo vulgar nas questões concretas. Com tais ações, facilita-se o jogo dos dirigentes da Internacional Amarela de Amsterdã.” (Teses sobre a estrutura organizativa, os métodos e a ação dos partidos comunistas, Resolução do III Congresso da Internacional Comunista, 22/07/1921).

Mas notem, além de “desenvolver entre eles o espírito de solidariedade e a consciência da comunidade dos operários de todos os países como uma classe unida que constitui parte do exército mundial”, para realizar todo este trabalho de fusão do comunismo com a vanguarda mais consciente do proletariado é preciso também, e principalmente, levar a ideologia comunista aos operários, fazer o combate contra o capital e sua influência sobre os trabalhadores no terreno teórico, político e econômico. Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário, e um conjunto de denúncias econômicas, não deixará de ser  essencialmente um conjunto de denúncias econômicas, se salpicamos aqui e ali com lembretes acerca da necessidade do partido revolucionário e da revolução para livrar os trabalhadores de toda exploração de classe. Como nos ensinou Lenin:

“A social-democracia dirige a luta da classe operária, não apenas para obter condições vantajosas na venda da força de trabalho, mas, também, pela abolição da ordem social, que obriga os não possuidores a se venderem aos ricos. A social-democracia representa a classe operária em suas relações não apenas com um determinado grupo de patrões, mas com todas as classes da sociedade contemporânea, com o Estado como força política organizada. Consequentemente, portanto, os sociais-democratas não podem limitar-se à luta econômica, mas, também não podem admitir que a organização das denúncias econômicas constitua a sua atividade predominante” (Que Fazer?, 1902).

E por que fazemos esta ressalva? Porque a organização das denúncias econômicas constitui a atividade predominante da RP. Bastou rever um sumário do conjunto dos boletins da RP que dispomos para notar isto: Radio Pião 20 (Sindicato, através de acordo com patrão da Weg, garante a saída da fábrica da cidade; Resposta ao Sr. Ricardo sobre a eleição sindical; Dyna não quer pagar PLR a seus funcionários; Sindicato cria nova modalidade de demissão na Modine; O cinismo dos patrões em relação à crise do capital; Ricardo e Sindicato: Parceria de Pelegos); RP 21 (Como os capitalistas mantêm suas taxas de lucros em tempos de crise; O sentido político da legislação trabalhista; A que se propõe a RP?); RP 22 (Campanha salarial: troca de interesses entre sindicato e patrões; Sindicato com sua campanha salarial dobra os operários ao capital; PLR: uma ferramenta que resolve os problemas dos patrões e ilude os operários!; PLR: um “benefício” que só faz mal a saúde dos operários; Modine: Acidentes, dupla jornada e uma corrente ao pé da máquina !); RP 23 (Resumo da situação do proletariado em 2009; Sobre a greve na Atelier Morcego; Sindicato tenta esconder que a Morcego está a beira da falência; Já derrubou seu carrasco hoje? Operários da Dyna escorraçam mais um crápula!; Caça aos vampiros sociais: operários da Morcego fazem duas greves em menos de um mês); RP 24 (Companheiros da Dyna fazem crítica à Rádio Pião; Além de não fazer a equiparação salarial Dyna quer dá calote na PLR; Operários da Modine denunciam: Modine emprega parentes da direção do sindicato; Rio Negro não faz equiparação salarial e dá golpe na PLR! A Direção sindical desapareceu!; Impostos ou Organização? Qual é a verdadeira contribuição operária?; Companheiros da Borlem são assaltados na Via Dutra); RP 25 (Você confia em seu chefe, gerente, diretor ou patrão?; Ciderol 10 anos Uma luta dos operários que foi “esquecida”; Fasal do Grupo Usiminas será fechada em outubro com conivência da direção sindical); RP 28 (Empréstimo consignado: um duro golpe na classe operária!; Modine, Dyna, Mtp...: a impossibilidade de conciliação entre capital e trabalho, ou seja, entre patrões e operários!; Estado burguês: financiador do peleguismo; A luta de classes não é uma luta pessoal!!!); RP 29 (1° de Maio e a necessidade de organização antes e após as demissões; O quê a CIPA tem a ver com a PLR?; PLR e Cummins: o quê não é dito aos operários?; O quê o futuro reserva para a classe operária?).

Fica evidente não só que a denúncia econômica é a atividade predominante dos boletins da RP, mas que se constitui quase que exclusivamente como única forma de abordagem do proletariado pela RP. Daí não ser de todo infundada a crítica de “economicismo” contra a RP. O problema é que costumeiramente quem vos acusa disto são “os partidos socialistas de mera propaganda cuja atividade consiste apenas em reuniões, discursos sobre as reformas e a exploração das possibilidades parlamentares.” que se recusam a “sequer tentarem a criação de organizações locais e assim aproximarem-se do proletariado em seu local de trabalho” (Rádio Pião; “Crítica a Liga Comunista, Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades”, 25/03/2011).

A RP pode nos refutar que recorre a esta forma de abordagem para integrar as massas no movimento político. Está correto fazer a denúncia econômica, demonstrar a raiz da exploração de classe, apontar que os trabalhadores devem se organizar em um partido para fazer a revolução, mas o predomínio da denúncia econômica atrofia o desenvolvimento da consciência de classe. Ater-se ao “gancho” da denúncia econômica estaria errado e, nas palavras de Lenin, seria “profundamente prejudicial e reacionário em seus resultados práticos”:

“Na realidade, a ‘elevação da atividade da massa operária’ será possível unicamente se não nos limitarmos à ‘agitação política no terreno econômico’. Ora, uma das condições essenciais para a extensão necessária da agitação política é organizar as revelações políticas em todos os aspectos. Somente essas revelações podem formar a consciência política e suscitar a atividade revolucionária das massas. Por isso essa atividade é uma das funções mais importantes de toda a social-democracia internacional, (...) A consciência da classe operária não pode ser uma consciência política verdadeira, se os operários não estiverem habituados a reagir contra todo abuso, toda manifestação de arbitrariedade, de opressão e de violência, quaisquer que sejam as classes atingidas; a reagir justamente do ponto de vista social-democrata, e não de qualquer outro ponto de vista. A consciência das massas operárias não pode ser uma consciência de classe verdadeira, se os operários não aprenderem a aproveitar os fatos e os acontecimentos políticos concretos e de grande atualidade, para observar cada uma das outras classes sociais em todas as manifestações de sua vida intelectual, moral e política; se não aprenderem a aplicar praticamente a análise e o critério materialista a todas as formas da atividade e da vida de todas as classes, categorias e grupos de população. Todo aquele que orienta a atenção, o espírito de observação e a consciência da classe operária exclusiva ou preponderantemente para ela própria, não é um social-democrata; pois para conhecer a si própria, de fato, a classe operária deve ter um conhecimento preciso das relações recíprocas de todas as classes da sociedade contemporânea, conhecimento não apenas teórico... ou melhor: não só teórico, como fundamentado na experiência da vida política. Eis porque nossos "economistas", que pregam a luta econômica como o meio mais amplamente aplicável para integrar as massas no movimento político, realizam um trabalho profundamente prejudicial e reacionário em seus resultados práticos. Para tornar-se um social-democrata, o operário deve ter uma idéia clara da natureza econômica, da fisionomia política e social do grande proprietário de terras e do papa, do dignatário, e do camponês, do estudante e do vagabundo, conhecer seus pontos fortes e seus pontos fracos, saber enxergar nas fórmulas correntes e sofismas de toda espécie com que cada classe e cada camada social encobre seus apetites egoístas e sua ‘natureza’ verdadeira; saber distinguir esses ou aqueles interesses que refletem as instituições e as leis, e como as refletem. Ora, não é nos livros que o operário poderá obter essa ‘idéia clara’: ele a encontrará apenas nas amostras vivas, nas revelações ainda recentes do que se passa em um determinado momento à nossa volta, do que todos ou cada um falam ou cochicham entre si, do que se manifesta nesses ou naqueles fatos, números, vereditos, e assim até o infinito. Essas revelações políticas abrangendo todos os aspectos são a condição necessária e fundamental para educar as massas em função de sua atividade revolucionária.” (Que Fazer?, 1902).

Acreditamos que este desvio economicista da RP emperra até a conversão de vossa “organização local” em “organização comunista local”, uma vez que “não é um comunista todo aquele que orienta a atenção da classe operária exclusivamente sobre si mesma”, impedindo-a que a própria tome noção de conjunto da luta de classes. Este não é um problema de ordem meramente logística (falta de tempo para assumir outras tarefas) mas sobretudo, uma debilidade derivada da incompreensão política de como elevar a consciência de classe do proletariado. A LC sentiu esta profunda debilidade dos camaradas quando propusemos realizar uma campanha comum de denúncia das eleições burguesas, das candidaturas patronais de Dilma e Serra nos meios proletários. Vamos refrescar a memória dos camaradas quando desde o ano passado vos criticamos:

“Acabamos de receber o vosso balanço do primeiro turno e concordamos que ‘Nesta eleição ficou evidente o descontentamento das massas proletárias com todos os partidos políticos’. Chegamos a mesma conclusão com os companheiros em nosso ‘Balanço e perspectivas das eleições 2010’ (...) Todavia, gostaríamos de destacar que ao recebermos o e-mail dos companheiros informando que devido a tarefas locais não podem assumir qualquer compromisso organizativo para o segundo turno das eleições, nós lamentamos a posição que tomaram. Tanto ou mais do que a RP, nós que acabamos de nascer enfrentamos 1001 dificuldades de organização, formação, estruturação no seio da classe e etc. Estamos sentindo na pele as toneladas de tarefas que recaem sobre as pequenas organizações que não se renderam ao oportunismo parlamentar ou sindical. Não concordamos que nossa obrigação de denúncia se encerrou no primeiro turno, ainda mais agora (e vocês devem estar percebendo isto aí também em Guarulhos) que a canalha petista anima sua militância para arregimentá-la recriando uma polarização contra a direita tucana, sendo que nós conhecemos bem o quão também é burguesa e reacionária o tipo de esquerda que o PT representa hoje.

Nossa tarefa é imensa diante da influência que exercem os traidores da classe. E tudo que fizermos contra eles com nossas pequenas forças isoladas ou mesmo reunidas ainda será muito pouco. Não queremos nem podemos abraçar o mundo com as pernas, mas seria muito importante para nossa classe que superássemos nossas pequenas limitações materiais e até mesmo nossas diferenças políticas (que não devem ser desprezadas, mas discutidas tão logo seja possível) para assumir a grande tarefa de apresentar uma política unificada como alternativa operária e revolucionária de denúncia da farsa patronal, inclusive para além do que nossas forças podem alcançar dos limites de Guarulhos, São Paulo, ABC paulista e no Nordeste. A classe se anima e se politiza de forma sadia, quando se identifica como classe mais do que como categoria, quando vê a unidade entre distintas correntes de revolucionários chamando-a à luta contra seus inimigos patronais. E isto tem como ganho, em contrapartida, o fortalecimento do trabalho local, inclusive para impulsionar o combate contra pelegos do quilate dos que vocês enfrentam aí no sindicato.

Apesar de lamentar profundamente o que esperamos poder superar de comum acordo no futuro, não nos contentamos com a impossibilidade dos companheiros de realizar uma frente única conosco, e realizamos uma frente ativa e classista com um agrupamento de professores do ABC paulista. Panfletamos em estações de trem, metrô, terminais de ônibus, escolas, faculdades, locais de trabalho, e realizamos colagens de cartazes já no segundo turno convocando a população a rechaçar Dilma e Serra.

É necessário, desde ontem, construir uma oposição revolucionária e programática ao governo burguês de Dilma, e essa tarefa cai sobre os ombros das organizações que reivindicam a ditadura do proletariado como processo transitório rumo ao socialismo. Justamente por compreendermos o tamanho da tarefa é que consideramos, fraternalmente, um erro dos companheiros não priorizarem, nesse momento, ações e discussões nesse sentido.” (Carta da LC a RP, 25/10/2010).

Queremos alertar aos camaradas que neste curso tendem a estrangular inclusive o trabalho que realizam hoje, que acaba por se restringir ao de uma refinada oposição sindical metalúrgica sem dispor para isso do aparato sindical controlado pela burocracia pelega. Como a própria RP relata no seu boletim número 24, o amadorismo compromete o desempenho das denúncias políticas e não permite sequer suprimir as demandas dentro das fábricas que acompanham:

“Os companheiros da Dyna fizeram uma crítica ao Jornal Rádio Pião 23: trata-se do artigo sobre a Sra. Fábia do RH, que arrancou sem escrúpulos a bandeja da mão de uma criança, filha de uma operária da fábrica. Na opinião dos companheiros a Rádio Pião demorou demais para fazer a denúncia e por isso a fábrica conseguiu pôr panos quentes na situação. Era a oportunidade que os companheiros tinham para botá-la para fora da fábrica com o apoio do jornal Rádio Pião, ou seja, tiramos o ‘doce da boca da criança’. Por isso - companheiros - aceitamos as críticas, pois além deste fato, há também que mencionar sobre os fatos políticos ocorridos em nosso país que a Rádio Pião não teve como abordar, como, por exemplo, o caso Sarney, o mensalão do Distrito Federal e vário outros, além da polêmica sobre o feriado de Zumbi dos Palmares, o Dia Internacional da Mulher, etc. Isso no aspecto político, porque no aspecto econômico também não pudemos dar respostas imediatas para algumas denúncias! Por conta dessa crítica (e temos certeza que críticas como essas são feitas por companheiros de outras fábricas como a Morcego, Rio Negro, Modine, por exemplo) nós iremos demonstrar a dificuldade que é organizar os operários tanto em nível econômico (sindical), quanto em nível político (anticapitalista), e consequentemente desenvolver o trabalho da Rádio Pião enquanto Coletivo Operário.” (Companheiros da Dyna fazem crítica a RP; RP 24, Informativo Operário - Ano VI, Abril /2010).

Aparentemente, como justifica a RP, o ocorrido se deve a falta de forças militantes para arcar com o conjunto das tarefas necessárias:

“Organizar a classe operária não é tarefa fácil, primeiro porque em Guarulhos existem 2 mil fábricas e dentre elas o setor metalúrgico, o qual não sabemos a sua quantidade exata de fábricas e operários. O sindicato estipula algo em torno de 50 mil, mas duvidamos desse número, por isso estamos há mais de 5 anos tentando fazer uma pesquisa através dos estudantes que se posicionam no campo da esquerda, mas o projeto jamais saiu do papel, porque de fato os estudantes priorizam mais outras questões do que essa que visa a luta de emancipação da classe operária.

A Rádio Pião por ser em sua maioria composta por operários, conta com a solidariedade daqueles camaradas de outros segmentos para a distribuição do jornal, porque a diretoria do sindicato e os patrões abriram uma ofensiva contra a Rádio Pião e tanto o Sr. Pereira, presidente do sindicato, quanto o seu vice Cabeção, declararam em assembleias que iriam eliminar os militantes da RP. Já os patrões, por sua vez, querem saber quem são os nossos militantes para processá-los!!, (idem)

A RP argumenta sobre a extensão do trabalho, a falta de colaboração dos estudantes, a perseguição por parte da burocracia sindical e dos patrões, que seus militantes são poucos e que é impossível distribuir o boletim para todas as fábricas da cidade, etc., mas a essência do problema está na concepção política que conduz a um amadorismo insolúvel em si mesmo. Todos estes obstáculos são reais, mas se tivermos que contar com a colaboração dos estudantes, dos patrões, dos burocratas sindicais ou do ingresso suficientes de militantes na RP para suprir a demanda de distribuição do boletim, certamente que não só os companheiros da Dyna como o conjunto dos operários do planeta vão continuar a esperar por uma organização política que nunca vai poder atendê-los porque simplesmente a atividade militante que está sendo realizada nunca desembocará em algo mais do que em uma débil oposição sindical. Tentaremos ilustrar mais uma vez a crítica que realizamos aos camaradas e esperamos que se identifiquem com a tipificação para poderem refletir e superar vosso economicismo:

“Consideremos o tipo de círculo socialdemocrata mais difundido nesses últimos anos e vejamos sua atividade. Tem ‘contatos com os operários’ e se atém a isso, editando ‘folhas volantes’ onde condena os abusos nas fábricas, o partido que o governo toma em favor dos capitalistas e violências da polícia. Nas reuniões com os operários, é sobre tais assuntos que se desenrola ordinariamente a conversa, sem quase sair disso; as conferências e debates sobre a história do movimento revolucionário, sobre a política interna e externa de nosso governo, sobre a evolução econômica da Rússia e da Europa, sobre a situação dessas ou daquelas classes na sociedade contemporânea etc., constituem exceções extremas, e ninguém pensa em estabelecer e desenvolver sistematicamente relações no seio das outras classes da sociedade. Para dizer a verdade, o ideal do militante, para os membros de tal círculo, aproxima-se na maioria dos casos muito mais ao do secretário de sindicato do que do dirigente político socialista. De fato, o secretário de um sindicato inglês, por exemplo, ajuda constantemente os operários a conduzir a luta econômica, organiza revelações sobre a vida de fábrica, explica a injustiça das leis e disposições que entravam a liberdade de greve, a liberdade dos piquetes (para prevenir a todos que há greve em uma determinada fábrica); mostra o partido tomado pelos árbitros que pertencem às classes burguesas etc. etc. Em uma palavra, todo secretário de sindicato conduz e ajuda a conduzir a ‘luta econômica contra os patrões e o governo’. E não seria demais insistir que isto ainda não é "social-democratismo”; que o socialdemocrata não deve ter por ideal o secretário do sindicato, mas o tribuno popular, que sabe reagir contra toda manifestação de arbitrariedade e de opressão, onde quer que se produza, qualquer que seja a classe ou camada social atingida, que sabe generalizar todos os fatos para compor um quadro completo da violência policial e da exploração capitalista, que sabe aproveitar a menor ocasião para expor diante de todos suas convicções socialistas e suas reivindicações democratas, para explicar a todos e a cada um o alcance histórico da luta emancipadora do proletariado.” (Que Fazer?, 1902).

Sem abandonar por um instante sequer o trabalho direto com o proletariado fabril, chamamos a RP a ter outro ideal militante, o do “tribuno popular”. Se este deveria ser o ideal para os comunistas que se fundiam com o proletariado de uma Rússia atrasada no inicio do século XX, imaginamos que este alerta de Lenin tenha uma vigência muito maior agora, mais de cem anos depois, para os que querem despertar a consciência comunista em uma massa de operários alfabetizada, que tem acesso ao rádio, televisão, jornais e internet e que é bombardeada de informações falsas por todos os meios pela burguesia e é carente de formação e de denúncias políticas e discussões ideológicas em milhares de outros assuntos. Neste sentido, também queremos destacar a importância não apenas de aliar a luta política às denúncias econômicas, mas também, da luta teórica. Engels reivindicava como parte de um tripé não apenas duas formas de luta (política e econômica) mas três, colocando a luta teórica no mesmo plano das outras duas. Lênin insistia, “sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário”. Nós da LC entendemos que a continuidade da teoria marxista revolucionária na atualidade está nas concepções de Leon Trotsky, assunto que trataremos a seguir.

“CRISE DE DIREÇÃO” E PRECONCEITOS ANTI-TROTSKISTAS

A constatação de que o trotskismo não realizou nenhuma revolução vitoriosa, reconhecida a priori pela LC no documento “Contra o ceticismo, construir o partido trotskista revolucionário da classe operária” (O Bolchevique #1, outubro de 2010), em nada invalida as concepções de Leon Trotsky como sucessor revolucionário e principista das teorias de Marx, Engels, Lenin e Rosa Luxemburgo. Assim como o fato de vivermos hoje sob a mais cruel escravidão assalariada, adentrando já na era da barbárie imperialista, e não sob o socialismo ou sequer em um regime transitório entre o capitalismo e o socialismo como foi o que existiu na URSS, 150 anos depois da elaboração do Manifesto Comunista, não invalida o marxismo como teoria essencial para a emancipação do proletariado.

A concepção marxista de que a prática é o critério da verdade, ou um dos princípios básicos da dialética leninista de que não existe verdade abstrata, de que a verdade é sempre concreta, nada tem a ver com o raciocínio anti-dialético e a-histórico positivista que afirma que o que não existe nem existiu, e nunca existirá. Este método de raciocínio e ataque anti-trotskista, os stalinistas copiaram dos ataques dos teóricos positivistas ao marxismo.

Da constatação inegável, de que o marxismo não está sendo aplicado na prática hoje, pode-se chegar a três conclusões distintas:

1) o marxismo não serve como teoria de transformação da realidade para os trabalhadores;

2) os trabalhadores não são uma classe revolucionária;

3) as duas conclusões anteriores estão erradas, o marxismo é revolucionário e os trabalhadores podem fazer a revolução desde que se livrem das concepções burguesas e pequeno burguesas impostas a eles pelos órgãos difusores das ideias da classe dominante (família, igreja, escola, estado, mídia, partidos burgueses e pequeno burgueses) e tornem-se marxistas.

No e-mail introdutório de vosso documento os camaradas afirmam: “o nosso artigo polemiza a questão dos métodos de organização, principalmente a relação entre organização central e organização local, e partindo daí refutamos a ideia sobre a ‘crise de direção’ tão conhecida entre nós.” Fizemos uma crítica do sentido limitado que a RP dá à relação entre a organização central e a organização local nos primeiros parágrafos desta nossa resposta e não identificamos maiores justificativas no documento da RP para atribuir a crise do movimento operário a esta relação organizativa. Acreditamos que a RP, ao refutar a teoria da crise de direção, sem, no entanto, apresentar uma argumentação correspondente no conteúdo de seu documento, cedo ou tarde acabará concordando com uma das duas primeiras premissas revisionistas acima.

Se concordamos que a 3ª dedução é a única correta, devemos também constatar que nestes 150 anos, afora o partido bolchevique russo, nenhum dos partidos que se disseram operários e marxistas levou adiante a tarefa de tornar os trabalhadores de classe em si em classe para si, ou seja, fusionar os melhores elementos do proletariado com o marxismo. Nenhum dos que se arrogou como partido dirigente de vanguarda da classe, de fato dirigiu a mesma à revolução.

Não somos agnósticos, discordamos daqueles que dizem que jamais poderemos chegar ao conhecimento da verdade. Somos materialistas, e deduzimos que, se o problema não está na teoria - o marxismo - nem na base explorada da humanidade vítima do capitalismo - os trabalhadores -  está na direção, nos partidos dirigentes da luta dos trabalhadores que por seu caráter de classe não proletário, mas pequeno burguês, conduzem a luta à derrota através da conciliação com a burguesia ou de métodos não revolucionários de luta de classes (parlamentarismo, trade-unismo, foquismo). Logo, a crise da humanidade é a falta de uma direção autenticamente revolucionária que fusione a teoria marxista com o proletariado e realize a tarefa de conduzir o proletariado de forma consciente, através do seu próprio partido, à realização de seus interesses históricos: a revolução social, a tomada do poder, a instauração do controle operário dos meios de produção, a ditadura revolucionária do proletariado e o socialismo. Até agora os teóricos do ecletismo, do socialismo à brasileira, os revisionistas em geral, não nos apontaram outro caminho melhor para o fim da escravidão assalariada nem no Brasil nem no mundo.

Mas existiu um partido que, de modo consciente, nasceu da fusão do marxismo com o proletariado fabril e mostrou-se concretamente revolucionário, executou a teoria marxista pelo menos entre os anos de 1917 a 1924, ou seja, enquanto esteve sob a direção de Lenin e Trotsky e antes da degeneração burocrática stalinista. Há também os processos de expropriação da propriedade privada ocorridos no Leste Europeu, nos Bálcãs (Iugoslávia, Bulgária, Romênia e Albânia), na China, Coréia do Norte e Vietnã e em Cuba. Nenhum destes processos foi conduzido por um partido operário revolucionário. Todos foram resultado de uma situação excepcional e extrema, quando os partidos stalinistas ou pequeno burgueses democratas radicais, exércitos populares camponeses, e guerrilhas foquistas foram levados a ir além de onde desejavam na ruptura com o imperialismo e a burguesia local.

Como regra geral, os partidos stalinistas e pequeno burgueses costumamse comportar como o PCdoB, na melhor das hipóteses como foquistas que se negam a organizar a luta de massas do proletariado em período de ditadura (Araguaia), ou comoconciliadores e cretinos reformistas que se aliam ao que chamam de burguesia progressista contra a ação direta dos trabalhadores, durante o período de democracia burguesa. Nestes tempos em que vivemos a colaboração de classes chega a ser tão escrachada que os “comunistas” do PCdoB se aliam no parlamento à chamada bancada ruralista, arqui-reacionários latifundiários assassinos de trabalhadores rurais, para aprovar um código florestal em favor do latifúndio e das multinacionais.

Nos processos revolucionários do último século, excetuando o russo, os partidos não revolucionários buscaram, a princípio, estabelecer acordos de colaboração de classes com a burguesia e com o imperialismo, mas o capital que possui sua “apurada consciência de classe” recusou-se a cumprir qualquer compromisso com estas direções pequeno burguesas, impelindo-os a ir além de onde pretendiam na ruptura com o capitalismo.

Tomemos Cuba como exemplo: quando em 1959 Castro e Che Guevara tomaram o poder, tinham em mente apenas destituir o ditador Fulgêncio Batista, apoiado escandalosamente pelo stalinista PC cubano, para instaurar uma república democrática na ilha, com a ilusão de que poderiam contar com o apoio do ‘democrático’ EUA, governado por John Kennedy, para isto. Sob a pressão da população que os apoiou na luta armada contra Batista, os guerrilheiros foram obrigados a fazer uma tímida reforma agrária e a executar, através de tribunais populares, aos antigos torturadores da ditadura. A revolução só veio a tomar um caráter anticapitalista e anti-imperialista três anos depois da tomada do poder, após a invasão da Baia dos Porcos por mercenários cubanos organizados pela CIA, em 1961, quando passou a expropriar o conjunto da propriedade privada burguesa, sendo obrigada a armar todo o povo, a construir comitês de defesa da revolução e romper com os EUA que já haviam imposto um bloqueio econômico sobre a Ilha.

Em todos estes Estados em que direções não revolucionárias foram obrigadas a fazer uma revolução e a expropriar a burguesia, foram instaurados Estados Operários que já nasceram deformados, não governados pela democracia operária nem baseados em conselhos populares. A única vez que o proletariado foi conduzido por um partido marxista revolucionário à tomada do poder e à instituição de uma democracia soviética foi sob a direção do Partido bolchevique russo governado por Lenin e Trotsky.

Na maioria das vezes, os partidos pequeno burgueses com apoio de massas (França na década de 1930, guerra civil espanhola, Indonésia 1965, Chile 1973) constituem frentes populares de colaboração de classes com setores da burguesia em favor de governos “democráticos e populares”, traem a luta pela revolução social e são apeados do poder pela reação pró-imperialista de algum Kornilov (Rússia), Suharto (Indonésia) ou Pinochet (Chile). No primeiro caso, de Kornilov, os bolcheviques realizaram uma frente única militar principista com Kerensky, sem apoiá-lo politicamente e esmagaram a direita golpista.

Lamentamos que a RP comungue dos preconceitos de origem stalinista que tentam apagar da história a importância de Trotsky, apoiando-se na política degenerada dos que se dizem trotskistas hoje. Para nós da LC, o PSTU, que é o maior partido identificado com o trotskismo no Brasil hoje, é tão trotskista quanto o PCdoB é comunista.

Primeiramente, foi Trotsky o dirigente do primeiro soviete da história mundial, na revolução russa de 1905, ostentando o título do orador mais feroz do Soviete de Petrogrado. Foi Trotsky quem lutou ao lado de Lenin contra a maioria do CC do partido bolchevique para derrotar a política conciliacionista de Kamenev, Zinoviev e Stalin, de apoio crítico ao governo provisório de Kerensky no primeiro semestre de 1917. Contra esta política vergonhosa defendida pela direção do partido bolchevique Lenin escreveu as Teses de Abril. Trotsky uniu-se ao CC do partido bolchevique em junho de 1917 com sua organização de 4 mil militantes, a Interbairros, e foi ele e não outro dirigente do partido quem recebeu a incumbência de conduzir a tomada do poder em outubro. A importância fundamental de Trotsky na revolução russa foi até algum tempo depois da mesma reconhecida pelo que viria ser seu carrasco: “todo trabalho prático da organização da insurreição foi levado sob a direção efetiva do presidente do Soviete de Petrogrado, o camarada Trotsky. Podemos dizer com certeza, que a rápida passagem da tropa para o lado dos sovietes e a audaz execução do trabalho do Comitê Militar Revolucionário se deve ao partido e, em primeiro lugar, ao camarada Trotsky.” (Pravda, Joseph Stalin, 06/11/1918).

Também foi Trotsky a quem Lenin responsabilizou a criação do Exercito Vermelho para enfrentar a contrarrevolução burguesa apoiada por nada menos que uma coalizão imperialista de 14 países que invadiram a Rússia. Para isto, o encarregado de Lenin criou, do nada, um Exército de cinco milhões de soldados dispostos a matar ou morrer pela revolução, não qualquer revolução, a sua revolução. Trotsky foi o único revolucionário marxista que viveu e combateu a degeneração da primeira experiência histórica de Estado operário, que viu o nascimento do nazismo imperialista, da política de frentes populares. Foi ele quem desenvolveu um dos mais importantes conceitos criados por Marx e Engels quando fazem o chamado aos operários para que sejam

“eles próprios a fazer o máximo pela sua vitória final, esclarecendo-se sobre os seus interesses de classe, tomando o quanto antes a sua posição de partido autônomo, não se deixando um só instante induzir em erro pelas frases hipócritas dos pequeno-burgueses democratas quanto à organização independente do partido do proletariado. Seu grito de batalha tem de ser: a revolução permanente.” (“Mensagem do Comitê Central a Liga dos Comunistas”, 03/1850).

Consideramos sim, a Trotsky, o verdadeiro sucessor do legado de Marx, Engels, Lenin e Rosa Luxemburgo. Se a Rádio Pião fizer o esforço de conhecer Trotsky diretamente, sem atravessadores, se estudarem diretamente suas obras e sua história, não se limitando a “circular uma análise sobre as concepções trotskistas” (Critica a Liga Comunista) reconhecerão o fio de continuidade marxista entre os escritos de Marx como o que acabamos e repetir e as Teses da Revolução Permanente desenvolvidas por Trotsky.

Esperamos estar equivocados em nossa interpretação, mas os camaradas dão a entender que seu modo de estudo do trotskismo pressupõe que alguém do grupo faça uma análise e repasse sua impressão aos demais. Na própria disposição da abordagem ao trotskismo anunciada pelos camaradas parece estar embutido um ranço antitrotskista. “Circular uma análise” pré-concebida é bastante distinto de estudar Trotsky no original e debater abertamente suas concepções e sua trajetória como dirigente revolucionário.

Desde que iniciamos o contato mútuo entre nossas organizações os camaradas da RP nos solicitaram que fizéssemos criticas aos vossos documentos. Foi o que buscamos fazer nesta resposta. Suspeitamos que a RP pode estar equivocada no diagnóstico acerca da origem de suas dificuldades e apontamos qual seria a origem das mesmas em nosso entendimento. Mas podemos estar enganados em algumas observações e errar na mão em outras. Pelo que lemos e conversamos com os camaradas identificamos que possuem um bom nível político, que fazem um esforço honesto por superar vossas debilidades e que estão abertos a discutir e aprimorar-se através da crítica e da autocrítica, e isto é o que existe de mais importante para a construção sadia de uma organização comunista. Nos sentimos sinceramente lisonjeados pelo fato de que ao elaborar a “Crítica a Liga Comunista”, clarificaram melhor as posições políticas dentro de vosso agrupamento, realizando um acerto teórico interno. O que tiver ao alcance da Liga Comunista para ajudá-los a superar estas debilidades, podem contar conosco. Esperamos também que analisem e critiquem este documento como ao conjunto de nossas publicações, queremos que ajudem-nos a identificar e eliminar nossos erros tanto teóricos e literais. Também estamos abertos para que conheçam mais e melhor a nossa atividade prática militante pessoalmente. Se o objetivo é acertar na construção do partido operário revolucionário, tanto para a RP quanto para a LC vale a seguinte observação de Lenin:

“a falta de preparação entre a maior parte dos revolucionários, sendo um fenômeno perfeitamente natural, não podia dar lugar a qualquer apreensão particular. A partir do momento em que as tarefas eram bem definidas; a partir do momento em que se possuía bastante energia para tentar de novo realizá-las, os fracassos momentâneos constituíam apenas meio mal. A experiência revolucionária e a habilidade de organização são coisas que se adquirem. É preciso apenas desenvolver em nós mesmos as qualidades necessárias! É preciso que tenhamos consciência de nossos defeitos, o que, no trabalho revolucionário, já é mais de meio caminho para os corrigir.” (Que Fazer?, 1902).

Saudações bolcheviques trotskistas
Liga Comunista


CARTA DA RÁDIO PIÃO A LIGA COMUNISTA

Caros camaradas,

Estamos enviando a nossa critica ao artigo “Nasce a Liga Comunista”. Esta critica era para ser enviada assim que recebemos a revista “O Bolchevique” dos próprios camaradas da Liga Comunista, ou seja, no mais tardar em novembro.

Isto não foi possível por dois motivos: o primeiro pelo acumulo de tarefas cotidiana do nosso Coletivo e segundo para discutir os pontos polêmicos de nossa critica dentro do nosso Coletivo, ou seja, fizemos um acerto teórico entre nós.

Uma vez resolvida as polemicas entre nós, tomamos a iniciativa de tornar pública essa critica que ora fazemos aos camaradas da Liga Comunista, isso tendo em vista a possibilidade dos diversos grupos, correntes e partidos políticos de esquerda assim como a própria Liga Comunista submeter a Rádio Pião a critica.

O nosso artigo polemiza a questão dos métodos de organização, principalmente a relação entre organização central e organização local, e partindo daí refutamos a idéia sobre a “crise de direção” tão conhecida entre nós.

Para aqueles camaradas, grupos, correntes e partidos políticos de esquerda que não tiveram acesso à revista “O Bolchevique” de Outubro de 2010, estamos enviando em anexo o artigo ora criticado por nós, ou seja, o artigo “Nasce a Liga Comunista”.

Os camaradas logo perceberão que as frases citadas têm referências em nota de rodapé das páginas da revista “O Bolchevique”. No artigo “Nasce a Liga Comunista” que enviamos em anexo as frases citadas foram grifadas por nós, e isso foi comunicado aos camaradas da Liga Comunista.

Aguardamos as criticas dos camaradas.
Saudações Revolucionárias. Rádio Pião.


Política de alianças: Proposta de organização da Rádio Pião e a origem de suas dificuldades

Caros camaradas da Liga Comunista, a Rádio Pião também se preocupa em relação à discussão acerca da construção de um Partido Operário, sendo assim, para nós, todos os esforços não teriam sentido se não fossem com o objetivo de contribuir de maneira a capacitar o proletariado para a construção de forças organizadas em vários níveis e formas para derrocar o poder burguês, destruir o seu Estado e substituí-lo pela ditadura do proletariado.

Porém, o nosso Coletivo na situação em que atualmente se encontra ainda não se constituiu como uma organização local. E esse é um ponto essencial que abordaremos ao longo deste documento, ou seja, a forma e o nível em que se encontra a Rádio Pião dentro da organização comunista e as dificuldades na organização de um jornal local com a finalidade de educar politicamente a classe operária e os trabalhadores assalariados em geral.

Sendo assim, uma organização local - sem um centro dirigente - que coloque em movimento outras organizações locais e reúna todas as forças revolucionárias do nosso país com políticas de ações, um programa desenvolvido pela teoria científica do proletariado (com base nas análises de Marx e Engels) e que leve em conta as particularidades da realidade do nosso país, ou seja, que leve em conta o desenvolvimento político, econômico e social, evidentemente terá muitas dificuldades em organizar o proletariado, principalmente na atual conjuntura, na qual se constata o refluxo da luta de classes.

Contudo, embora haja alguns agrupamentos políticos que se reivindicam o dirigente central de todas as lutas, ou simplesmente se propõem em realizar essa tarefa, de fato, eles não passam de débeis organizações locais e nada mais.

Essa situação também é constatada pelos camaradas em sua revista, como segue: “(...), as correntes que se reivindicam marxistas estão reduzidas a pequenos agrupamentos de propaganda sem absolutamente nenhuma influência real sobre as massas proletárias, as únicas que podem liquidar a agonia capitalista”.1 Por outro lado, para os “grandes” partidos de “esquerda” a situação não é muito diferente, pois se constata que a raiz da sua impotência, para a organização da luta de classes no país, se deve ao fato de sequer tentarem a criação de organizações locais e assim aproximarem-se do proletariado no seu local de trabalho, moradia e estudo, uma vez que

“(...) a atividade das organizações socialdemocratas locais é a base de toda a atividade do partido”. 2

Portanto, tais partidos na realidade, não se atêm a esse “pequeno detalhe” porque há muito abandonaram a práxis revolucionária no aspecto político, ideológico e organizativo.3

De fato, pode-se observar a derrota da classe operária e dos trabalhadores assalariados em geral como um fenômeno a nível mundial. Para chegarmos a essa conclusão, realizamos recentemente em nosso Coletivo, um balanço anual das atividades políticas nas quais atuamos, as reuniões tiveram a duração de dois dias, e, em nossa análise, concluímos que a crise cíclica do capital se prolongará por um período maior, porém a sua saída será dentro dos marcos do regime burguês. Esta conclusão é baseada nas observações das últimas manifestações espontâneas do proletariado, principalmente na Europa, em países como Inglaterra, França, Grécia etc., onde esses movimentos espontâneos seguidos da atuação política dos setores de esquerda (meramente economicista, diga-se de passagem) na Europa (e também na América) nos revelam o grande retrocesso no qual o movimento operário se encontra, e isso em nível mundial, tanto no terreno político, quanto no ideológico e organizativo. Ora, enquanto o proletariado se encontrar orientado pelo oportunismo e pelas ideologias burguesas e pequeno-burguesas não será possível um rompimento com a ordem existente, o que somente será possível pela via revolucionária.

Portanto, temos a clareza de que, a Rádio Pião, se enquadra nestes “agrupamentos de propaganda” citado pelos camaradas, e, evidentemente, reconhecemos as nossas debilidades, mas há de se checar como se encontram de fato as outras “organizações de propaganda” e quais os objetivos que elas pretendem alcançar.

O nosso jornal, entretanto, se apresenta como um Informativo operário, e a impressão que a maioria dos leitores têm (principalmente por parte da “esquerda”) é que esse Informativo apenas se atêm a despertar os companheiros das fábricas para a denúncia econômica. Com certeza já se levantaram algumas vozes afirmando que: “isso é o economicismo puro! Há que organizar os operários politicamente para a tomada do poder!”. Mas, por outro lado, alguns leitores sugerem para que o nosso Informativo abandone a propaganda comunista e se atenha apenas ao aspecto econômico (assumindo o papel de mera Oposição Sindical!), sobre a argumentação de que o papel da propaganda se restringe, apenas, as tarefas do partido. De fato, essas pessoas ignoram por completo o nosso trabalho!!!

O nosso método de trabalho consiste em “ir às massas, vir das massas e retornar às massas”, quando os operários nos enviam suas denúncias econômicas, nós devolvemos tais denúncias como forma de síntese, indicando que os problemas são comuns a todas as fábricas (e de certa forma aos demais ramos de produção) de maneira a demonstrar as raízes dos problemas através das leis de desenvolvimento da economia capitalista, nas categorias econômicas como salário, lucro, moeda etc.

E, também, desenvolvemos a questão do problema político das relações sociais de produção no sistema capitalista, o antagonismo entre a burguesia e o proletariado, além de revelarmos a vacilação da pequena-burguesia nesta luta pelo seu lugar de intermediário entre a burguesia e o proletariado, a divisão do trabalho manual e intelectual, entre outros.

Portanto, para mostrar os problemas políticos das relações sociais, através das relações de classes é necessário ter uma vasta informação de toda a vida política, econômica e social de nossa cidade e para isso seria necessário ter a unificação de todos os revolucionários e o envolvimento das massas proletárias neste trabalho em todos os setores da cidade, coisa que ainda está longe de nosso alcance, pois esse trabalho pressupõe não só estar na fábrica, ou melhor, em um determinado ramo da produção, como é nosso caso, ou estar nesse ou naquele ramo da produção, como nas teleoperadoras o que é o caso dos camaradas, é necessário estar em todos os poros da sociedade, e mesmo assim não só em uma cidade ou em um Estado, mas em todo o território nacional para dar uma educação política conseqüente ao proletariado.

O nosso Informativo, todavia, cumpre o papel de agitador, propagandista e organizador coletivo: Agitador porque denúncia os abusos econômicos dos capitalistas; Propagandista porque esclarece a origem dos abusos econômicos, da exploração e opressão da classe dos possuidores dos meios de produção (e consumo) sobre o proletariado.

Propaga que somente através de uma revolução social poderemos suprimir as contradições do capital. E para alcançar esse objetivo, coloca-se a necessidade da criação de seu partido revolucionário, como instrumento do processo de assimilação da teoria científica do proletariado, o qual, através de sua vanguarda revolucionária, deverá ser ajudado na construção de forças organizadas para levar à prática a política e o programa da revolução socialista, fundamentado e guiado por sua teoria científica revolucionária; Organizador coletivo porque é através do nosso Informativo que temos acesso a outros agrupamentos revolucionários, o que nos permite aglutinar e selecionar os operários das fábricas de acordo com o seu nível de formação política etc.

O método que descrevemos acima permitiu que nos aproximássemos do proletariado de forma a conseguirmos contribuições materiais, financeiras etc. Sendo assim, conseguimos locais para nos reunirmos, carros para distribuir o material etc., enfim cumprimos a resolução que determina que a classe tem que financiar sua própria luta. Portanto, a Rádio Pião não é meramente uma Oposição Sindical como muitos querem, nem, tampouco, se constitui num partido político. Na verdade, ela tenta se constituir em uma organização comunista local, e como uma organização local ela necessariamente chegará a um ponto em que não poderá superar suas debilidades, simplesmente porque ela não está centralizada por um partido, e, por conseguinte, todo o seu esforço poderá no máximo realizar a proeza de uma Comuna de Paris!!!!

É por isso que Lênin insistia que todas as organizações locais que não estão centralizadas por um partido operário a nível nacional, por mais que se esforcem para fazer um trabalho revolucionário não poderão romper com os métodos artesanais de luta e organização e junte-se a isso o atraso do movimento operário nos terrenos político, ideológico e organizativo.

Por isso o trabalho de agitação política entre as massas se torna difícil, o que possibilita a compreensão do diagnóstico feito pelos camaradas sobre a “(...) atividade (política) que as pequenas organizações abandonaram ou a fazem de modo extremamente atrofiado” 4, esse diagnóstico serve para a Rádio Pião, como certamente servirá à Liga Comunista.

Sobre a Construção do Partido Operário
1- A organização conspirativa

Os camaradas em seu artigo “Contra o ceticismo, construir o partido... etc.” reivindicam “(...) a luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizados, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI” 5, e para alcançar este objetivo indicam como tarefa principal para seus militantes a necessidade do “recrutamento das massas nas lutas, nos locais de trabalho e estudo para a compreensão estratégica da organização política, instruí-las na ideologia comunista ...”6. Esse recrutamento das massas visa à formação de “uma nova geração de quadros operários...” 7 que estarão livres de possíveis deformações revisionistas que é causa principal das “traições da direção” e, que portanto, será a “vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI”.

Para empreender as tarefas acima citadas os camaradas têm em vista simplesmente a organização dos operários da cidade de São Paulo (e mesmo assim refere-se somente aos operários do setor fabril, ou seja, no setor de produção do capital e acaba por negligenciar a organização no setor da circulação do capital), desta forma os camaradas buscam retomar a política da LBI em sua origem “da acertada orientação política deliberada na IV Conferência da LBI, tomada cinco anos antes, que orientou o deslocamento gradual da direção política da corrente de Fortaleza para São Paulo, justificado pelo fato da capital paulista8 ser a principal cidade operária da América Latina e centro político nacional”9.

Se for verdade que as organizações locais por não terem a sua coordenação por um centro dirigente, ou seja, por um partido, estarem fadadas em um determinado momento de seu desenvolvimento a não conseguirem romper com suas debilidades como, por exemplo, “a LBI cai na prostração, quando é obrigada a constatar que sua intervenção sobre o revisionismo não surte qualquer efeito político e menos ainda organizativo”10, também não é menos verdade que uma organização local atuando de forma isolada não terá grandes êxitos no trabalho de construção do partido, assim como também no trabalho conspirativo: “Ao completar 15 anos de existência, 200 edições do Jornal Luta Operária e ter se tornado uma referencia política principista na vanguarda de esquerda nacional e internacional, a LBI retrocedia em direção a converter-se em um organismo monocelular11”. Ter somente como prioridade a organização de uma determinada cidade por sua importância econômica, política e social é de fato um argumento muito insuficiente.

É verdade que a concentração e centralização do capital se dão numa determinada região, porém os camaradas não levam em conta as modificações na estrutura industrial dentro do Estado de São Paulo e fora dele como conseqüência da luta de classes da década de 80, esse processo é expresso pelos economistas burgueses como “deseconomias de aglomerações”12, na verdade a burguesia percebeu o perigo que corria ao ter uma  concentração elevada de operários numa mesma região, dessa forma ela descentralizou concentrando a indústria, desde Porto Alegre-RS (onde se encontra a maior concentração da indústria) até a cidade de São Bento-RS, subindo o mapa, indo pelo Estado de Santa Catarina (onde a concentração industrial pega toda a faixa litorânea de Florianópolis até Joinville), o Estado do Paraná (onde a principal região fica ao redor da cidade de São José dos Pinhais), e, dentro do Estado de São Paulo, a burguesia dividiu a concentração industrial em dois pólos: Grande São Paulo e Interior (as principais regiões são a de Campinas e a Região de São José dos Campos), continuando, pelo estado do Rio de Janeiro (vai desde a Cidade do Rio até Macaé), pelo Estado de Minas Gerais (onde a principal concentração se encontra de Betim a Belo Horizonte) até chegar ao Estado do Espírito Santo. Essa descentralização concentrada foi limitada pela circulação do capital, uma vez que os principais portos, rodovias, ferrovias e aeroportos se encontram na região sudeste-sul.

Como se vê a astúcia da burguesia é bem maior que a nossa, pois ela parece pressentir que não temos a capacidade de construir várias organizações locais centralizadas (reparem que não mencionamos nada sobre a organização do proletariado do campo!!) dirigida por um partido operário!!! Aliás, não temos nem uma coisa, nem outra, o que temos na verdade são “pequenos agrupamentos de propaganda sem absolutamente nenhuma influência real sobre as massas proletárias”!!

Podemos resumir nosso raciocínio (guardado as devidas proporções) nas palavras de Lênin:

“Nosso movimento, tanto no sentido ideológico como no sentido prático e organizativo, se ressente sobre tudo por sua dispersão13, porque a imensa maioria dos social-democratas estão quase totalmente absorvidos por um trabalho puramente local que limita seu horizonte, assim como a amplitude de seu campo de ação e sua formação e preparação para o trabalho conspirativo. Precisamente nesta dispersão14 devem buscar-se as raízes mais profundas da instabilidade e das oscilações de que falamos acima”15.

O problema das organizações locais e conseqüentemente suas dificuldades para realizar o trabalho conspirativo não é algo novo, Marx e Engels, em seu tempo, também tiveram problemas para unificá-las, principalmente após a derrota das revoluções de 1848

“Ao mesmo tempo, a primitiva e sólida organização da Liga (Comunista) se debilitou de forma considerável. Grande parte dos seus membros – os que participaram diretamente do movimento revolucionário – acreditava que já havia passado a época das sociedades secretas e que bastava a atividade pública16. Alguns círculos e comunidades foram enfraquecendo os seus laços com o Comitê Central e terminaram por extingui-los pouco a pouco. Assim, pois, enquanto o partido democrático, o partido da pequena-burguesia, fortalecia sua organização na Alemanha, o partido operário perdia sua única base firme, e conservava a custo sua organização em algumas localidades, para fins exclusivamente locais17 e, por isso, no movimento geral, caiu por completo sob a influência e direção dos democratas pequeno-burgueses. É necessário acabar com tal estado de coisas, é preciso restabelecer a independência dos operários”18.

A história do movimento comunista nos mostra que é necessário criar as organizações locais em várias regiões industriais (além do campo) e não só em uma determinada cidade, se agimos dessa forma teremos, no máximo, os mesmos resultados da Comuna de Paris e, no caso brasileiro, das greves de São Paulo em 1917 dirigidas pelos anarquistas que quase levaram a uma insurreição.

Poderíamos propor a unificação de todos os “pequenos agrupamentos de propaganda sem absolutamente nenhuma influência real sobre as massas proletárias” e todos os revolucionários do nosso país para “(...) a luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizados, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI”, porém, nos parece que há uma “pequena” barreira não só teórica, mas histórica que deveríamos romper, trata-se do caráter do partido. Mas, antes de entrar nesse ponto, achamos que seria necessário fazer um breve relato das experiências dos partidos de “esquerda” em nosso país.

2 - A experiência dos partidos no Brasil

Na abertura de seu documento os camaradas fazem uma citação de Lênin, como se segue,

“Nenhuma situação, por cinzenta e pacífica que seja, como tão pouco nenhum período de decaimento do espírito revolucionário exclui a obrigatoriedade de trabalhar pela criação de uma organização de combate, nem de levar a cabo a agitação política; mais ainda, é precisamente em tais circunstâncias e tais períodos que é especialmente necessário o trabalho indicado porque em momentos de explosão e estouros é tarde para criar uma organização. A organização tem que estar pronta para desenvolver sua atividade imediatamente.”

E, nós acrescentamos,

“(...) se não existe uma organização forte, provada na luta política em todas as circunstâncias e em todos os períodos, não se pode nem sequer falar de um plano de atividades sistemática, elaborado a base de princípios firmes e aplicado com perseverança que é o único plano que merece o nome de tática”19.

Acrescentamos esta citação porque em nossa opinião nunca houve em nosso país uma organização revolucionária com tais características, ou seja, que se esforçassem na “luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizado, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado...”, portanto nós concordamos que, “é preciso retomar os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política que levou mais adiante a luta pelo socialismo, que foram capazes de levar os trabalhadores conscientemente à tomada do poder através da revolução social e instauração de sua ditadura revolucionária.”20 Os partidos que se reivindicam como “vanguardas conscientes do proletariado” desde 1922 não passaram e não passam de organizações que atuaram e atuam na base da legalidade burguesa, atuam de forma a não criar nenhum tipo de constrangimento às classes dominantes, como revelou as eleições burguesas de 2010, “Enfim, nestas eleições tivemos partido ‘comunista’ defendendo a ‘Reestruturação da Forças Armadas brasileiras’, outros implorando aos capitalistas que não boicotassem a sua participação no processo eleitoral.

E mais, houve até partido de ‘esquerda’ defendendo abertamente que sua participação nas eleições seria – apenas – para propagandear as ‘possíveis’ reformas dentro do sistema capitalista! De fato, estes partidos ‘revolucionários’ mostraram como sabem se adaptar com maior ou menor submissão às medidas burguesas. Contudo, os partidos de ‘esquerda’, para legitimar a participação nas eleições, dizem que o proletariado ainda acredita na luta parlamentar e por isso disputam cegamente uma ‘cadeirinha’ no parlamento.”21 Esse processo de atuação, conforme a legalidade burguesa, é verificado em toda a história dos partidos e organizações em nosso país que se reivindicavam e se reivindicam como “marxista-leninista”, porém não tinham e não têm, como princípio, a estruturação de organização de partido como os clássicos nos ensinam, de forma a fazer um trabalho que combinasse o ilegal com o legal, a usar as instituições abertas para camuflar as atividades da organização clandestina etc.

Por isso, os partidos e organizações sucumbiram diante das “explosões e estouros” que ocorreram no período de Getúlio Vargas e no Golpe de 1964, e, em seguida, caíram na clandestinidade, não como uma concepção de organização de partido, mas simplesmente por contingência. E mais, essa clandestinidade não visava organizar o proletariado para derrocar o poder burguês e destroçar o seu Estado para substituí-lo pela ditadura do proletariado, muito que pelo contrário, visavam as “liberdades democráticas” do regime burguês!!! É evidente que os resultados dessas táticas recaem sobre os ombros do proletariado criando o terreno para o atraso ideológico, político e organizativo, uma vez que permitiu o surgimento do Partido dos Trabalhadores que foi tanto em sua forma como no conteúdo uma corrente liquidacionista22 e contra-revolucionária. Assim como o é PCB, PSTU, PSOL e consortes.

Desta forma reafirmamos que em nosso país nunca existiu

“...uma organização forte, provada na luta política em todas as circunstâncias e em todos os períodos, não se pode nem sequer falar de um plano de atividades sistemática, elaborado a base de princípios firmes e aplicado com perseverança que é o único plano que merece o nome de tática”.

Não temos nenhuma tradição no trabalho clandestino porque nunca tivemos um partido que fosse moldado conforme as concepções do socialismo científico. Temos a obrigação de preparar a revolução, ou seja, preparar o proletariado (principalmente o proletariado do setor industrial) para executar com êxito a política de sua luta de classe e seu programa revolucionário socialista, para isso necessita munir-se de sua teoria revolucionária científica e de seu partido revolucionário. São essas as condições subjetivas básicas para que o proletariado possa dominar o conhecimento científico necessário para conhecer a realidade objetiva, a sociedade brasileira, sem a qual não poderá transformá-la. Ademais, sem tais condições subjetivas, particularmente o partido, não conseguirá construir os instrumentos de forças vitais para assestar duros golpes à dominação capitalista e desencadear as lutas que o enfrentamento de classe exige para por fim a essa dominação, tomar o poder político, através da revolução violenta, destruir o Estado burguês e instaurar o socialismo.

Depois desta exposição é notável o diagnostico da miséria em que nos encontramos após quase 90 anos da fundação do Partido Comunista, além da indigência que se encontra o marxismo em nosso país.

3 - Proposta para a discussão do Partido e suas limitações

Em todo o documento dos camaradas são tratadas as questões essenciais sobre a construção do Partido, da qual temos plena concordância, mas é ao mesmo tempo limitada porque somente são considerados “verdadeiros revolucionários” aqueles que reivindicam o legado de Leon Trotsky. Aliás, nos parece que os camaradas afirmam que Trotsky é o verdadeiro herdeiro de Lênin após seu desaparecimento. Mas, de uma forma geral, em que consiste a argumentação das correntes que reivindicam o legado de Trotsky?23 Simplesmente, nesta fórmula: “A inexistência de uma direção revolucionária para a luta das massas se relaciona com a barbárie imperialista de forma dialética, como causa e efeito. Como Trotsky prognosticara, as condições objetivas para a revolução proletária apodrecem e a humanidade caminha para uma catástrofe”24. O atraso do proletariado no terreno ideológico, político e organizativo é a conseqüência da falta desta direção por isso “Como em nenhuma época histórica anterior, a carência de uma direção revolucionária do proletariado cobra hoje seu preço”25. Seus princípios são baseados nas teses da “Revolução Permanente” e no “Programa de Transição”, fundaram a IV Internacional e não dirigiram uma revolução sequer!

Até mesmo a LBI, que gozava de um enorme prestigio entre nós, por ser o exemplo da disciplina, da militância correta, da abnegação pela causa do comunismo, caiu em sua própria armadilha e conseqüentemente “a crise da direção cobrou seu preço também para a LBI, levando-a a prostração ceticista.”26

Procuramos deixar claro nas nossas analises que não concordamos com tal ponto de vista, e se concordamos com a formulação da “luta pela construção de um partido de revolucionários profissionais, centralizados, conspirativo, composto pela vanguarda consciente do proletariado do séc. XXI. Apropriando-se dos melhores recursos logísticos de hoje para levar adiante a tarefa, é preciso retomar os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política que levou mais adiante a luta pelo socialismo, que foram capazes de levar os trabalhadores conscientemente à tomada do poder através da revolução social e instauração de sua ditadura revolucionária”, é simplesmente por tratar-se de uma tática que resultou, até certo ponto, na vitória do proletariado, assim como “os bons e velhos métodos bolcheviques de agitação, propaganda e organização política”, portanto, será esse o caminho que a Rádio Pião irá trilhar.

Como dito em uma nota, iremos em breve circular uma análise sobre as concepções trotskistas. Evidentemente, sem entrar na questão da personalidade de Trotsky - lado para qual muitas vezes a discussão é encaminhada – analisar seus pontos de vistas teóricos, bem como daqueles que se reivindicam trotskistas, e a influência destas concepções no movimento operário.

NOTAS
1. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 07.
2. Lênin, Vladimir Ilitch, Nossa Tarefa Imediata, 1899.
3. (Por outro lado, no documento dos camaradas, na parte em que citam: “as correntes que se reivindicam marxistas”, tornam o termo muito ambíguo, uma vez que a esquerdalha (mistura de esquerda com canalha) também se reivindicam como marxistas).
4. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 09.
5. Idem.
6. Idem, p. 08.
7. Idem, p. 09
8. Grifos RP.
9. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 09.
10. Idem, p. 08.
11. Idem, p. 09.
12 Os economistas da burguesia estudaram o fenômeno das deseconomias de aglomerações na tentativa de atenuar o problema econômico, político e social que têm origem nas relações sociais de produção capitalista, segundo estes economistas: “(...) os principais itens de deseconomias de aglomerações tem-se o sistema de transporte de carga de passageiros, incluindo-se a infra-estrutura viária, o sistema de abastecimento de água e de coleta de esgoto, o sistema de coleta de lixo; além disso, têm-se também os custos sociais de poluição do ar e dos recursos hídricos; a elevação do número de acidentes de trabalho; a deterioração dos principais indicadores da ‘qualidade de vida’ na área metropolitana, como a questão do desemprego, da elevada rotatividade da força de trabalho, dos serviços sociais de educação e saúde, aumento dos índices de criminalidade e condições de habitabilidade, sem deixar de contar com a desenfreada especulação imobiliária e a distribuição desigual dos custos e benefícios nessas áreas. (...) mais recentemente, a maior organização e mobilização dos principais sindicatos dos trabalhadores metropolitanos tem sido apontada como um problema a mais para as indústrias metropolitanas”. Negri, Barjas, Concentração e Desconcentração Industrial em São Paulo, Editora da Unicamp, p.191. A proposta para tentar resolver estes problemas que são inerentes ao processo de produção capitalista, os economistas propõem a desconcentração das indústrias, essa proposta reformista visa a distribuição de renda e a harmonia entre capital-trabalho como declara abertamente o senhor Wilson Cano da Unicamp no prefácio da obra citada “Mostramos, através da boa doutrina (!!!), que o capitalismo se desenvolve, no espaço, ‘de forma desigual e combinada’, e que tanto a diminuição dos chamados desequilíbrios, quanto a da pobreza, não seriam jamais atenuadas pelo mercado, e sim pela vigorosa ação do Estado.” Idem, p. 07.
13 Grifos R.P.
14 Idem.
15 Lênin, Vladimir Ilitch, Por onde Começar? Maio de 1901. 16 Grifos R.P.
17 Idem.
18 Marx e Engels, Mensagem do Comitê Central a Liga dos Comunistas, Obras Escolhidas, vol. I, p. 83
19 Lênin, Vladimir Ilitch, Por onde Começar? Maio de 1901.
20 O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p. 09..
21 Rádio Pião, Balanço das eleições de 2010.
22 A corrente liquidacionista é formada por militantes (e intelectuais) partidários ao desaparecimento do partido revolucionário e clandestino da classe operária. Geralmente esses militantes (e intelectuais) defendem a criação de um “amplo partido operário”, rejeitam as palavras de ordem revolucionárias para desenvolver exclusivamente atividades legais.
23 A Rádio Pião circulará, em breve, uma análise sobre as concepções trotskistas e suas experiências no movimento operário.
24. O Bolchevique, ano I, outubro 2010, p.07.
25. Idem.
26. Idem, p.10.