TRADUTOR

sábado, 27 de julho de 2013

CARTA AOS LEITORES

Unificar as lutas para derrotar a
ofensiva anti-operária que se avizinha!

Editorial dO Bolchevique #17 
A primeira onda de protestos populares do mês de junho refletiu o esgotamento de um ciclo de acumulação capitalista no país. A população foi às ruas em junho protestar contra o aumento insuportável do custo de vida. A inflação vem crescendo mais a partir de 2012 porque foi no aumento dos preços das mercadorias que os patrões apostaram para seguir lucrando depois da chegada da crise econômica no país. A primeira reação contra este aumento do custo de vida veio dos trabalhadores organizados ainda em 2012, quando o número de greves  (Gráfico 1) computadas no país chegou a quase 900, a maior quantidade desde 1996. O operariado industrial foi quem mais conseguiu recuperar o poder de compra de seus salários em relação às perdas inflacionárias, seguidos pelos trabalhadores do comércio e, por fim, os dos serviços.

Ainda segundo o Dieese, durante a era Lula e Dilma (2001-2012), a produtividade na indústria de transformação chegou a atingir 26%, em 2010 (Gráfico 2) e a produção industrial 39%. Desde 2005, a indústria manufatureira encolheu 11% (caindo de 79% para 68%) do total de empregos formais gerados na produção, ou seja, enquanto a taxa de lucros caía no mundo e particularmente nos EUA (Gráfico 3), no Brasil (Gráfico 4)ela tendia a crescer graças a super-exploração da classe operária. Esses dados são importantes porque é principalmente na esfera da produção onde se cria a riqueza material que se dispersa nas esferas da circulação (capital financeiro, capital comercial) e alimenta o maquinário do Estado capitalista. A mais-valia se realiza no mercado, ou seja, com a venda das mercadorias produzidas na fábrica. Essa alta produtividade fez com que a taxa de lucro atingisse seu teto em 2008 para começar a despencar a partir de 2009-2010.

O governo Dilma tratou então de dar uma sobrevida artificial ao ciclo de acumulação através da ampliação do mercado por meio do estímulo ao consumo da população, por um lado e, por outro, da redução de impostos para certos setores capitalistas, sendo como as multinacionais montadoras de automóveis. Aqui vale destacar que a “menina dos olhos” da produção nos governos do PT possuiu uma margem de lucro de 10%, o dobro da margem mundial do setor automobilístico. Por conta dos aumentos nas vendas de carros nos últimos anos, e dos lucros, as montadoras foram responsáveis por quase 20% de todas as remessas de lucro feitas por empresas a partir do Brasil em 2011. Isto demonstra também o quão é proveitoso para a multinacional imperialista GM, o acordo escravocrata com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (CSP/Conlutas) para o envio de espetaculares remessas de lucros à matriz ianque.

Todavia, o estímulo ao consumo não foi feito pelo aumento dos salários, mas pela liberação de crédito. Em 2012, as famílias chegaram ao máximo de seu endividamento até então (ver texto sobre bolha imobiliária da LC) e esta bola de neve explodiu. Há mais de um ano denunciávamos “Medidas ‘anti-crise’ de Dilma, matando a sede com água salgada” (O Bolchevique #10), apontando que as políticas preventivas do governo fariam a crise explodir com mais força no país, que o tal do “estímulo ao crédito” alavancava a super-especulação aos limites extremos e eram uma verdadeira “bomba relógio” contra o proletariado, criando uma pauperização relativa (aumento da distância entre o valor produzido pelo trabalhador e a parcela dessa riqueza produzida da qual este se apropria) e uma escravidão por dívida. Estava claro que um tal crescimento econômico baseado no endividamento máximo das famílias trabalhadoras, ilusoriamente “ingressas na classe média” pelo PT, comprando “seus sonhos de consumo” sem receber salário compatível para tal, iria esgotar-se logo, logo.

Os setores que foram induzidos a acreditar que haviam ascendido à classe média agora se sentem pobres, pensam que empobreceram, quando na realidade nunca deixaram de ser pobres trabalhadores que agora foram expulsos da onda consumista e precisam encarar a realidade de que não estão pobres, são pobres. Dessa forma a crise econômica chegou no país atrasada, em 2012. Mesmo que a grande mídia patronal e o governo Dilma sigam fingindo que a situação só é grave com a Grécia, Espanha, Portugal, etc., as massas sentem na inflação, na perda do acesso ao transporte, saúde, educação, a corrosão de suas condições de vida.

A IMPOTÊNCIA DAS MANIFESTAÇÕES POPULARES SEM A CLASSE ORGANIZADA E SEM UM PROGRAMA OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO

Foi assim que os protestos semi-espontâneos, inconscientes contra o aumento das passagens se converteram nas maiores mobilizações de massas da história recente do país. Na primeira onda de protestos, em junho, mais de dois milhões de habitantes em protestos que se alastraram por cerca de 600 cidades brasileiras. Todavia, estes setores rebelados contra uma situação social que sofrem e sentem, não possuem consciência de classe do que se trata, nem lhes é confortável reconhecer que se encontram em uma situação estrutural sem saída. São induzidos a acreditar que seus problemas residem na corrupção, na falta de patriotismo e outras bobagens inoculadas pela ideologia burguesa. Embora para estes setores seja difícil seguir acreditando no mito de que são classe média, é muito mais difícil todavia abandonar este mito. Esta contradição se manifesta simultaneamente como impotência e ira. Impotência que permanece se a classe operária não entre em cena passando por cima de todas suas direções pelegas que fingiram um “Dia de luta” no 11 de julho.

Agora a mídia pró-imperialista começa a propagandear que o Brasil é caro, que os salários são altos e que os direitos trabalhistas e sindicais são obstáculos para a queda do “custo Brasil” (lucro-Brasil!)  culpando a classe operária pelo alto custo das mercadorias (valor de troca), por um lado, e sua baixa qualidade (valor de uso), por outro. Ao mesmo tempo, a mesma mídia patronal compara os preços e na “relação custo-benefício” demonstra que as mercadorias dos EUA e Europa são mais baratas e de melhor qualidade. Trata-se obviamente de fazer uma vitrine funcional para ampliar e abrir mais ainda o mercado brasileiro à ofensiva comercial do imperialismo que exige tais medidas para sair de sua própria recessão. Começa a pressão em favor de uma abertura importadora, por juros altos e câmbio baixo. A desindustrialização, no que para nós interessa ou seja, a “desoperarização” que já vinha crescendo com a demissão dos trabalhadores da industria tende a agravar agora com a concorrência das manufaturas importadas artificialmente barateadas desde a criação do Real.

Neste quadro, criar expectativas na capacidade da “burguesia nacional” e industrial como promove a Força Sindical só cabe a quem cumpre no movimento operário o papel de porta-voz dos interesses do patronato da Confederação Nacional da Indústria. Essa mesma burguesia industrial é cada vez menos “nacional” e cada vez mais comercial e importadora, onde já predominam as tendências à conversão do parque industrial nacional em maquilador, ou seja, montadoras de peças importadas. Não por acaso, o carro chefe da indústria nacional são as montadoras de veículos. Na próxima etapa, os patrões industriais se preparam para converter as fábricas em depósitos de mercadorias importadas ou meros departamentos de manutenção e assistência técnica, aproveitando as redes de comercialização de suas indústrias para servir meramente de correia de transmissão à nova ofensiva comercial do imperialismo.

Dilma acreditava que com as políticas anti-crise conseguiria evitar o contágio do Brasil pelo menos até sua reeleição. A próprio oposição burguesa não havia se preparado para substituir o PT no governo antes disso. Assim, os protestos massivos pegaram toda a burguesia de surpresa. A rebelião seria um bom momento para que as massas se aproveitassem da confusão burguesa, mas lamentavelmente também não existe ainda uma alternativa revolucionária dos trabalhadores organizada a altura desta tarefa. Depois da surpresa inicial o capital retoma a ofensiva e agora, o imperialismo chantagea o governo Dilma e o PT exigindo a renúncia do ministro da Economia petista, aumenta a pressão pela prisão dos mensaleiros e ameaça envolver o próprio Lula com os escândalos de corrupção, faz campanha de rua pelo “Fora Dilma!”, promove  candidaturas alternativas do PSDB, PSB e divulga pesquisas eleitorais há um ano das eleições em que Dilma chega empatada no segundo turno com Marina Silva que nem partido legal possui ainda. Dilma cede as chantagens, aumenta os juros e reestitue certa autonomia ao Banco Central (tornando-o mais dependente dos desejos dos banqueiros e do capital financeiro internacional).
  

Do sonho da 6a potência mundial o “Brasil acordou” para o pesadelo de sofrer agora uma nova colonização com desindustrialização, demissões em massa, população super-endividada, salários miseráveis e perda de conquistas. Agora a bola está com metalúrgicos, petroleiros, carteiros e bancários que com suas campanhas salariais no 2o semestre precisam unificar as lutas e atuar como vanguarda de toda a população trabalhadora. Por isso, não podemos depositar nenhuma ilusão nas atuais direções sindicais na luta para deter essa catástrofe que nos ameaça. Precisamos nos organizar por local de trabalho, construir oposições classistas às centrais sindicais que sob a influência do PT e dos demais partidos patronais não só não nos defendem como são cúmplices dos ataques aos nossos direitos, como é o caso da CUT defendendo o Acordo Coletivo Especial. Por tudo isso também não alimentamos nenhuma ilusão no PT, PSDB, PSB, Rede, e defendemos a construção de uma oposição operária e revolucionária que busque reconquistar os sindicatos para os trabalhadores, como parte da luta por construir um partido operário revolucionário no país que conduza as lutas ao estabelecimento de um governo operário e dos trabalhadores.