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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A LUTA POR UM PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DA ÁFRICA DO SUL

Sobre as diferenças no RMG
RMG, ou Grupo Marxista Revolucionário, é uma organização trotskista sul africana que assinou juntamente com o CLQI uma declaração principista contra a intervenção imperialista na Líbia em abril de 2011. Todavia, o grupo passa por uma crise interna, sobre a qual o CLQI manifesta sua caracterização abaixo.
Por Gerry Downing do Socialist Fight (Grã Bretanha)

Começamos com duas longas citações de Trotsky sobre os sindicatos e o sindicalismo. Parece-nos que este é o problema central do RMG, manifesto na sua atitude para com a divisão na NUM [sigla em inglês para a União Nacional dos Mineiros da África do Sul] e sua relação política com a atual oposição dentro da Cosatu [sigla em inglês para o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos], a sua atitude para com a questão da aristocracia operária, o imperialismo e sua incapacidade de orientar-se para lutar por um partido revolucionário no sentido trotskista, ou seja, como a seção sul africana do Partido Mundial da Revolução Socialista.

A primeira citação define a importância central da burocracia sindical para a manutenção do capitalismo. É claro que Trotsky fala apenas dos países imperialistas e das colônias. Mas para nós é evidente também que um poderoso movimento sindical surgiu em muitas semi -colônias avançadas nas últimas três décadas e esse já se tornou altamente burocratizado e submisso ao Estado capitalista, representando os interesses do imperialismo global. O centro deste processo na África do Sul é a aliança entre a COSATU, o CNA [Congresso Nacional Africano, partido de Mandela e do atual presidente do país, Jacob Zuma] e o Partido Comunista da África do Sul, a "Aliança Tripartite”.



Outro exemplo é o Partido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores ) no Brasil, com sua central sindical, a CUT. Contrapondo-se a Centrais como a COSATU e a CUT criam-se federações sindicais “oposicionistas de esquerda", tanto na África do Sul como no Brasil [Conlutas, Intersindical], também burocratizadas e servindo como defesa do flanco esquerdo da própria burocracia central, muitas vezes em conflito com as centrais oficiais, mas fortemente influenciadas por grupos centristas, algumas das origens trotskistas. Seu centrismo, com uma fraseologia revolucionária nos conflitos nacionais, mas quase sempre social-imperialistas, diante dos conflitos internacionais e guerras, coloca-se invariavelmente em defesa do Estado capitalista em conjunto com todo o restante da burocracia sindical "de esquerda".

A primeira citação de Trotsky é “Sobre os erros de Princípios do Sindicalismo” (1929):

Nos estados capitalistas observam-se as formas mais monstruosas de burocratismo precisamente nos sindicatos. Basta ver o que se passa na América do Norte, Inglaterra e Alemanha. Amsterdã é a mais poderosa organização internacional da burocracia sindical. Graças a ela mantém-se de pé toda a estrutura do capitalismo, sobretudo na Europa e especialmente na Inglaterra. Se não fosse pela burocracia sindical, a polícia, o exército, os lordes, a monarquia apareceriam ante os olhos das massas proletárias como lamentáveis e ridículos joguetes. A burocracia sindical é a coluna vertebral do imperialismo britânico. Graças a essa burocracia existe a burguesia, não somente na metrópole, mas também na Índia, no Egito e nas demais colônias. Seríamos cegos se disséssemos aos operários ingleses: ‘Guardem-se da conquista do poder e recordem sempre que seus sindicatos são o antídoto contra os perigos do Estado.’ Um marxista dirá: ‘A burocracia sindical é o principal instrumento da opressão do estado burguês. É preciso arrancar o poder das mãos da burguesia, portanto seu principal agente, a burocracia sindical, deve ser derrubada.’ Entre parênteses, é justamente por isso que o bloco de Stalin com os fura-greves foi tão criminoso. [1]

A segunda citação é do documento “Comunismo e Sindicalismo, também de 1929 e da mesma coleção. A frase abaixo parece-nos ser a tese mais relevante para situar as diferenças no RMG: A tarefa corretamente entendido do Partido:

“O partido comunista é a ferramenta fundamental para a ação do proletariado, a organização de combate de sua vanguarda, que deve erigir-se em direção da classe operária em todos os âmbitos da sua luta, sem exceção, e portanto, também no campo sindical”.

“Aqueles que, em princípio, contrapõem a autonomia sindical à direção do partido comunista estão contrapondo – queiram ou não – o setor proletário mais atrasado com a vanguarda da classe operária; a luta pelas conquistas imediatas com a luta pela libertação dos trabalhadores; o reformismo com o comunismo; o oportunismo com o marxismo revolucionário”.

“A tarefa do Partido Comunista não consiste apenas em ganhar influência sobre os sindicatos, tais quais eles são, mas de conquistar, através dos sindicatos, uma influência sobre a maioria da classe operária. Isto só é possível se os métodos empregados pelo partido nos sindicatos corresponderem à natureza e às tarefas destes últimos. A luta pela influência do partido nos sindicatos encontra sua verificação objetiva no fato de que eles progridam ou não, e no fato de que o número de seus membros aumente, assim como suas relações com as massas mais amplas. Se o partido só adquire influência nos sindicatos ao preço de uma diminuição e de um fracionamento deles – transformando-os em auxiliares do partido para objetivos momentâneos e impedindo-os de tornarem-se verdadeiras organizações de massas – é que as relações entre o partido e a classe são falsas. Não é necessário que nos debrucemos aqui sobre as causas para tal situação. Nós temos feito isso mais de uma vez e fazemos isso todos os dias. A inconstância da política comunista oficial reflete sua tendência aventureira para tornar-se dirigente da classe trabalhadora no menor tempo possível, por meio de malabarismos, maquinações, agitação superficial, etc. Todavia, o caminho para sair desta situação não encontram-se na contraposição do partido (ou a colaterais sindicais do partido) aos sindicatos, mas na luta implacável para mudar toda a política do partido, bem como a política sindical.”

“26. A Oposição de Esquerda deve associar indissoluvelmente as questões do movimento sindical com as questões da luta política do proletariado. Deve dar uma análise concreta do atual estágio de desenvolvimento do movimento operário francês. É preciso fazer uma avaliação quantitativa, bem como qualitativa, do presente movimento grevista e suas perspectivas em relação às perspectivas do desenvolvimento econômico da França. É desnecessário dizer que está descartada completamente a perspectiva de uma estabilização e uma paz capitalista que durem décadas. Essa é uma característica de nossa época revolucionária. Isso surge da necessidade de uma preparação oportuna da vanguarda do proletariado diante das mudanças abruptas que não são apenas prováveis como inevitáveis. Quanto mais firme seja a ação da Oposição de Esquerda contra os discursos supostamente revolucionários da burocracia centrista , contra a histeria política que não leva em conta as condições objetivas, que confundem o hoje com o ontem ou com o amanhã, mais firme e resolutamente deve opor-se contra os elementos desta ala direita que utilizam nossas críticas para camuflarem-se sob elas, a fim de infiltrar-se no marxismo revolucionário.” [2 ]

NOTAS

[1] Leon Trotsky, The Errors in Principle of Syndicalism, in Communism and Syndicalismhttp://www.marxists.org/archive/trotsky/1931/unions/index.htm
[2] Leon Trotsky, Communism and Syndicalism, in Communism and Syndicalismhttp://www.marxists.org/archive/trotsky/1931/unions/index.htm
(Trotsky, 14 de outubro de 1929, “Sindicalismo e Comunismo”, em “A Verdade” nº 8, 1/11/1929).

Em castelhano: