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sábado, 4 de abril de 2015

RE-PRIMARIZAÇÃO/DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL

A Re-primarização/desindustrialização no ABC Paulista
Artigo de Erwin Wolf publicado no Folha do Trabalhador 19

Na Região do ABC paulista, como efeito retardado da crise capitalista de 2008, vem ocorrendo a chamada desindustrialização/reprimarização.

No dia 20 de março de 2014, no caderno de “Economia” do Diário do Grande ABC saiu uma matéria, assinada pelo jornalista Pedro Souza, com o título de “Indústria encolhe e serviços contratam 63 mil”.

Logo no início do artigo conta que

“O mercado de trabalho do Grande ABC vive dias difíceis quando o assunto é a indústria. O setor perdeu 8.499 trabalhadores em cinco anos encerrados em fevereiro, período em que o estoque de empregados formais somou 239.921 posições. No mesmo intervalo, as empresas de serviços aumentaram o contingente em 63.486 profissionais registrados, o suficiente para totalizar 338.045 carteiras assinadas no mês passado.”

Em seguida o artigo menciona que tais dados são do Ministério do Trabalho e Emprego. Observa, também, o referido periódico que


“o período de comparação, de 2009 a 2014, abrange o início do impacto da crise financeira mundial no País, que começou em setembro de 2008 com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers e influenciou todos os mercados financeiros do mundo, posteriormente os governos e, consequentemente, as companhias [que] por isso, e pelas incertezas dos empresários quanto ao futuro da economia do País e de suas próprias instalações, ele vêm reduzindo o quadro de funcionários como forma de manter as margens [de lucros] e, muitas vezes, as portas abertas.”; e que “Diretor do Ciesp (Centro da Indúsdria do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Hitoshi Hyodo se mostrou preocupado com a situação e diz ter consciência de que fevereiro foi o quarto mês consecutivo de demissões na indústria da região. Ele entende que a Copa do Mundo de futebol só prejudica a produção do País, tendo em vista que as atenções se voltam ao evento e são geradas incertezas sobre o futuro da economia. ‘A perspectiva não é boa. No mínimo, você tira o pé, não contrata em situação como essa. Deixa o empresário mais atendo ao cenário econômico.’”

O Diretor do Ciesp de São Bernardo concluiu que

“Por esse motivo, como também pela baixa competitividade desencadeada pela alta carga tributária e a entrada massiva de produtos importados da China no País, Hitoshi acredita que o emprego na indústria caminhará “de mal a pior” em 2014, e consequentemente, em 2015.”

Já “Para o Diretor do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, há uma interpretação errônea do governo federal em comemorar o aumento do emprego em geral, com base na elevação do contingente de serviços, tendo em vista que o segmento tem menor remuneração média em relação aos postos da indústria. “Nós temos uma quantidade de mão de obra extremamente desqualificada, fora do mercado de trabalho, sem capacidade para atender a indústria quando ela demandar, criando subempregos e comemorando por isso”, criticou. Sem contar que muitos dos que perdem sua vaga na indústria dificilmente conseguem se recolocar no setor, buscando, como alternativa, trabalho em serviços, e ganhando menos.”

Esse quadro acima, descrito pelo Jornal Diário do Grande ABC, confirma o acerto da posição defendida pela Vanguarda Metalúrgica, corrente sindical metalúrgica do cinturão industrial de Campinas, impulsionada pela LIGA COMUNISTA, que em sua tese para o 11º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, criticou a tese da corrente ASS (uma composição entre anarco-sindicalistas e o petismo sindical de Campinas), conforme Folha do Trabalhador, n. 18, set/2013, pág. 3:

“2 na desindustrialização histórica do Brasil. A ASS desconsidera a desindustrialização dos últimos 30 anos e apenas avalia micro-recuperações pontuais e momentâneas de alguns setores da indústria e não do conjunto do parque industrial que hoje corresponde a apenas 14,8% do PIB. Para a ASS, a desindustrialização, uma tendência predominante desde meados da década de 80 é mera choradeira chantagista do empresariado sobre o governo para obter mais isenções fiscais e incentivos. Ao contrário do que parece, no imediato, esta avaliação debilita a luta contra o desemprego e contra a precarização trabalhista e engrossa o discurso petista oficial de apenas passarmos por uma “marolinha”.  E, no imediato, esta posição míope para a política de dependência econômica, retrocesso produtivo e colonial alavancados na década neoliberal de 1990 e aprofundados pelos governos do PT que privilegia as montadoras e a agro-indústria em detrimento do desenvolvimento do departamento I da economia. Em outras palavras-, o capitalismo brasileiro não apenas não caminha para alcançar o sonho do Brasil potência como os problemas históricos e estruturais são agravados com a concentração de terras e a dependência tecnológica. Como afirmamos em nossa tese: “nem ceder a chantagem patronal e pelega em nome da crise, nem negar a desindrustrialização, ficando desarmados politicamente para combater os ataques dos patrões...nem juros altos para os banqueiros, nem juros baixos para os industriais! nacionalização dos bancos e  da indústria sob o controle dos trabalhadores !”

Recentemente, a LIGA COMUNISTA, aprofundando a discussão sobre a economia brasileira, vem discutindo a questão da reprimarização, em razão do artigo “O Governo Lula e a recolonização econômica do Brasil”, do companheiro NAZARENO GODEIRO do PSTU, no qual é enfatizado que

“O Brasil se especializou em produção e exportação de commodities, dependente de recursos naturais, produção em larga escala e monocultivo para exportação: um retrocesso em direção a uma economia de cunho colonial, dependente do capital estrangeiro.”  Além disso, “O recente boom exportador da América do Sul foi essencialmente centrado nas commodities destinadas aos mercados globais. Houve um retrocesso frente ao Brasil industrializado e produtor de manufaturas.  A economia brasileira nasceu como primária exportadora, avançou entre 1950 e 1980 para uma economia produtora de manufaturas, e retornou, sob o neoliberalismo, a uma economia primária-exportadora.”  E que “Desta forma, o Brasil ingressou na década de 1990 com uma dupla cara: exportador de manufaturas para o Mercosul e exportador de matérias primas para o mundo.”

Observa GODEIRO, que

“Enquanto a indústria em geral perdia peso na economia, as empresas de mineração e alimentos cresciam com médias de dois dígitos anuais.”; que “O salto das exportações de bens primários é o elemento novo da economia brasileira nos últimos 10 anos. O governo Lula incentivou e dirigiu o processo de reprimarização da economia brasileira. Em 2010, pela primeira vez desde 1978, o Brasil exportou mais commodities que manufaturados.”.

Por outro lado, de certa forma, GODEIRO dá razão à LIGA COMUNISTA quando esta fala em desindustrialização, ao explicar que: “Reprimarização não é sinônimo de desindustrialização, pois o agranegócio, a mineração, a siderurgia, o petróleo e a petroquímica, são setores industriais. Pode usar o termo “desisndustrialização” somente de forma relativa, já que a indústria de transformação no Brasil perdeu espaço para o setor industrial primário.”; e que “Mirando a economia brasileira no seu conjunto e em dinâmica, existe um processo de desindustrialização, já que a indústria perde peso para o setor de serviços no conjunto da economia. Essa desindustrialização é relativa porque não se trata do fechamento e destruição física da indústria brasileira (ainda que milhares de indústrias que não conseguem concorrer com a China, estão falindo), mas perda de peso da indústria na produção nacional. Em 1985, toda a indústria aportou 48% ao PIB brasileiro, em 2009 se reduziu a apenas 25%.”

Assim, constatamos a desindustrialização, ainda de forma relativa, como coloca GODEIRO, combinada com a reprimarização, com o Brasil passando a produzir produtos de baixo valor agregado, as chamadas commodities, destinadas ao mercado internacional.


A compreensão da conjuntura econômica é fundamental para traçarmos a linha política da classe operária para enfrentar a patronal, sem ceder à sua choradeira e à da pelegada,  colocando a nacionalização dos bancos e da indústria, sob o controle dos trabalhadores.