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terça-feira, 24 de novembro de 2015

ARGENTINA

Macri, o império contra-ataca
e o combate se aprofunda

Leon Carlos – TMB (Argentina) e H. Rodriges – FCT (Brasil)

A vitória eleitoral de Macri poderá marcar o início do fim do ciclo de governos de centro esquerda na América Latina.

Durante a era K, e sobretudo no governo de Cristina, a Argentina foi um dos países que mais aprofundou suas relações com a China. Se Menen estabeleceu “relações carnais” com os EUA, Cristina fez o mesmo com o bloco Eurásico rival do imperialismo. Todavia, o agrupamento "Partido Justicialista - Frente por la Vitória” do PJ de Cristina acreditava que poderia sobreviver a ofensiva imperialista que busca por todos os meios recuperar o espaço perdido para o bloco Eurásico, lançando Scioli, o candidato mais pró-imperialista da FPV, capitulando assim preventivamente e apresentando como sucessor um herdeiro político do próprio menemismo. Nada feito, o imperialismo e seus agentes de direita locais não se contentam com nada menos que a revisão geral das relações comerciais e políticas estabelecidas com os BRICS.

Todavia, para derrotar o cristinismo, não foi necessário ao imperialismo recorrer de artifícios mais agressivos como convulsionar o país com uma guerra civil e infiltração de mercenários (Líbia e Síria), Golpes de Estado (Egito, Tailândia, Ucrânia), impeachments (Honduras e Paraguai) ou chantagens que conduziram a renúncias (Guatemala e Romênia). Bastou se apoiar na mídia, na guerra comercial e nas próprias contradições e limites do estatismo cristinista, dependente da China.

DEPENDÊNCIA EXTERNA E LIMITES DO ESTATISMO BURGUÊS

Depois da Venezuela, a Argentina é um dos países que mais estreitou relações comerciais com a China no continente que entre 2005 e 20014 recebeu investimentos totais da ordem de 119 bilhões de dólares, 47% dos quais, direcionados a Venezuela. A companhia petrolífera chinesa CNOOC é a segunda maior do país depois da YPF. A China estabeleceu dezenas de acordos de investimentos e financiamentos com o governo de Cristina, como a construção da central nuclear Atucha III, de uma Estação Espacial em Neuquén e duas grandes represas em Santa Cruz. Esta associação econômica China-Argentina é um dos alvos centrais que o contra-ataque imperialista visa torpedear.

Um dos fatores que favoreceram a vitória de Macri foi o descontentamento social com a inflação, derivada dos limites do estatismo burguês. Por exemplo, apesar de estatizar a YPF, o governo argentino se mostrou incapaz de congelar os preços dos combustíveis para alavancar o crescimento econômico do país. Sem expropriar a burguesia o governo estatista se endivida, imprime e desvaloriza sua moeda, provocando inflação que corroo os salários e as reservas no Banco Central. Precocemente o "modelo K" se esgotou, com se esgotam todos os modelos estatistas burgueses, cujos desequilíbrios crescentes provocam frustração e insatisfação social, sobre o quê se apoiou o populismo neoliberal de Macri.

OS LUTADORES SOCIAIS LATINO AMERICANOS PERMITIRÃO
O "EFEITO DOMINÓ" ORQUESTRADO PELO IMPERIALISMO?

Logo de cara, esta vitória anima ao império a derrotar um a um todos os bolivarianismo em um contra-ataque dominó para recuperar seu quintal laitino americano. Macri promete uma virada na política externa. Buscará retomar as relações com os Estados Unidos e a Europa como prioritárias. Revisará a aproximação com China e Rússia, países que Kirchner converteu em sócios estratégicos. Quer "descongelar" as relações com Grã-Bretanha, abaladas pelo conflito envolvendo as Ilhas Malvinas. Defende o "abandono do eixo bolivariano" e o pedido para que o Mercosul execute a "cláusula democrática" para suspender a Venezuela. Esta vitória eleitoral do imperialismo influenciará de imediato as eleições parlamentares venezuelanas.

A volta da direita pró-imperialista na Argentina também fortalecerá o golpismo no Brasil. A partir do exemplo vitorioso da unidade da direita, que deu certo sob um custo político mínimo com o segundo turno argentino, o primeiro da história das eleições presidenciais do país, a oposição burguesa brasileira será ainda mais pressionada pelos EUA a alinhar-se sob uma tática majoritária do PSDB ou do PMDB para marchar unida pela derrubada de Dilma. Mantida a atual política de adaptação passiva e capitulação do PT, a desmoralização da base popular e sindical petista fragilizará ainda mais o governo Dilma.

LIÇÕES E CONTRADIÇÕES DA VOLTA DA DIREITA
PRÓ-IMPERIALISTA AO GOVERNO NA ARGENTINA


A primeira lição é que os trabalhadores devem seguir a organização de sua luta para construir seu próprio governo, não renunciar a sua estratégia se enganando com a política de partidos como o PT, no Brasil, ou a FPV, na Argentina, o MAS boliviano ou o PSUV venezuelano, nem tampouco renunciar a tática da frente única com as direções majoritárias do movimento de massas (bolivarianismo, kirchnerismo, petismo) contra o golpismo e o imperialismo.

A segunda lição é a de que o estatismo burguês tem um prazo de validade cada vez menor em meio a Guerra Fria.

A terceira lição é a de que a capitulação preventiva só favorece a vitória tranquila do inimigo.

Mas toda contra ofensiva imperialista com Macri pode resultar em um fiasco tipo De La Rua. Por que?

Primeiro porque apesar dos desequilíbrios crescentes e do próprio esgotamento do modelo estatista K, a economia argentina teve uma sobrevida frente a crise atada ao mercado chinês, com a qual suas mercadorias se complementam no fornecendo commodities. Já a economia dos EUA concorre com a da Argentina, restringe as oportunidades comerciais do país, induzindo ao agravamento do parasitismo financeiro, ao ajuste financeiro neoliberal, apontando que um governo Macri será mais caótico e repressivo.

Segundo, contra o combativo proletariado Macri anuncia tempos ainda mais difíceis de eliminação dos acordos paritários com os sindicatos e a remuneração da produtividade com base nos interesses patronais. A isso é preciso somar a elevação das tarifas que o macrismo vem planejando, com a eliminação dos subsídios e a futura desvalorização do peso. Estas medidas pulverizarão os salários. Tudo isso será agravado pela eliminação dos impostos sobre as exportações, as assim chamadas retenciones, praticadas sobretudo nos alimentos. Esta medida perversa fará que os capitalistas exportadores vendam no mercado interno os alimentos ao mesmo valor do mercado mundial, e provocará assim uma brutal queda livre dos salários dos operários. Desta forma, Macri se concilia com o agronegócio e com a classe média rural que ganhou muito dinheiro na era K. No entanto, mais adiante, entrará em contradição objetiva também com este setor, na medida que se afastar da China, principal mercado destes setores agropecuários.

Terceiro, o macrismo é um aparato débil que não possui quadros e seus “quadros” são elementos sem preparo na luta política de partidos, saídos do mundo empresarial, de fundações privadas e ONGs ligadas a direita e ao imperialismo.

Apoiando-se nas fragilidades do macrismo, o proletariado argentino organizado e com seus métodos de luta dará seu veredicto sobre o novo governo e sobre a estratégia de recolonização imperialista de seu país. Cabe aos revolucionários ajudá-lo nesta tarefa.